Vitór(ia) de Gaspar Pirro – Nuno Araújo

“With a little help from my friends”, ou “com uma pequena ajuda dos meus amigos”, diria Vítor Gaspar acerca da sua “vitória de Pirro”, em ter conseguido condições muito favoráveis para obter acesso a financiamento directo nos mercados de valores, sem recorrer à sombra traiçoeira da Troika.

A “vitória de Pirro” de Vítor Gaspar contempla o acesso de Portugal aos mercados financeiros. É uma boa notícia, porque a economia pode financiar-se novamente sem ajuda da Troika, mas representa duas más notícias, porque esse acesso aos mercados ainda não será sentido pelo comum dos portugueses, e acima de tudo, conseguir esse acesso aos mercados significa mais empréstimos obrigacionistas, logo, mais endividamento.

Dívida por cima de dívida, é precisamente aquilo que o governo de Passos Coelho tão bem sabe fazer, e “instruiu” o povo português a não fazer.

Portanto, a vitória de Gaspar é mesmo de “Pirro”: devastou-se a economia portuguesa, baixaram-se salários, colocaram-se as “jóias da coroa” portuguesa em saldos; foram empreendidos “showrooms” e apresentados catálogos de empresas estatais colocadas à venda, até em califados distantes. Tudo isso para obter muito pouco em troca.

Essa vitória de “Pirro” assinala ainda que o défice de 2012 não deverá ter ultrapassado os 4,6%. Ora, o défice podia ter chegado até aos 5%, que não haveria problema, em virtude de acordo assinado com a troika. Sendo assim, duas notas: uma primeira nota, porque motivo é que se existe uma almofada de 0,4 pontos percentuais, porque é que se insiste em cortar 4 mil milhões de euros em despesa, nomeadamente com saúde, educação e segurança social? Segunda nota, porque motivo é que devemos acreditar em como o défice das contas estatais não ultrapassa esses 4,6%, quando já existiram erros crassos no apuramento do défice orçamental?

Fim da discussão: não há privatização da RTP

O CDS ganhou a contenda com o PSD. Paulo Portas conseguiu a vitória pública que lhe ia escapando, e ganha novo fôlego e novos argumentos face aos seus críticos internos. Miguel Relvas conseguiu escolher um tema de intervenção, onde se refugiou, e perdendo nessa luta, face às suas pretensões iniciais, conseguiu não se expôr em demasia aos danos, o que coloca Relvas num terreno confortável.


O CDS de Paulo Portas já se tinha mostrado contra essa medida emblemática do programa eleitoral do PSD, e conseguiu “levar a melhor” sobre a “deriva ultraliberal” de Relvas e Passos Coelho, que idealiza o “estado mínimo e indispensável”, em conjunto com o seu mentor chamado Troika.

Com a não-privatização da RTP, ainda assim perto de 50 milhões de euros serão dispendidos nos próximos anos, por forma a reestruturar a empresa de televisão de capitais públicos.

Grã-Bretanha: sim ou não à UE?

David Cameron, primeiro-ministro britânico colocou o desafio: irá referendar a vontade de os britânicos estarem na UE, ou não, se vencer as eleições de 2015.

Este anúncio representa a saída “airosa” de Cameron, de uma situação delicada a nível partidário, pois os “tories” mais eurocépticos colocavam o actual primeiro-ministro entre “a espada e a parede”, insinuando que os acordos fiscais, a união bancária europeia e a crise da Zona Euro eram motivos mais do que suficientes para explicar o mau desempenho da economia britânica, “apenas” a terceira em peso do PIB entre os 28 países integrantes da UE.

No entanto, também existem aqueles “tories” que pretendem estar presentes numa UE “com um pé dentro e outro fora”, pois a saída da Grã-Bretanha da UE poderia ser ruinosa para a sua economia. Esses “tories” esquecem-se de que é impossível estar numa UE próspera, quando não se ratifica o acordo de Schengen, e quando se propaga a intenção em não aderir ao Euro, para assim continuar a efectuar negócios em terras “de sua majestade” com Sterling Pounds.

Em resumo, David Cameron, ao anunciar este referendo, “lava as suas mãos”, como Poncio Pilates fez: o povo que decida o futuro do país na UE.

 

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana