Passa demasiado rápido…

Nos dias que correm, em que o mundo vibra absorto em tecnologia e redes sociais, o tempo torna-se cada vez mais relativo porque sente-se que não temos tempo para nada. E a vida voa e nós vamos envelhecendo demasiado rápido para descortinar que tal afronta vai mexendo os cordelinhos nos bastidores da nossa existência. O mundo está demasiado apressado, demasiado insaciável. Queremos tudo para ontem com o desejo que chegue o amanhã o mais rápido possível para voltarmos a ter tudo para ontem. É um mundo confuso este que chegou até 2024.

E é no meio desta azáfama de vida que, durante um ligeiro interregno para deliberação interior, constato que estou a falhar como ser humano, como marido e como pai. Como uma espécie de adaga apontada ao meu coração, as palavras da minha filha têm um impacto dilacerante em mim, quando me apercebo que não lhe estou a dar a devida e merecida atenção paternal:

“Pai, tu nunca brincas comigo”, dispara por vezes.

O que podia ser apenas uma frase simples e sem malícia alguma, torna-se, de repente, uma agressão à minha capacidade paternal. Primeiro porque, sim, eu brinco com a minha filha. Segundo porque, sim, eu deveria brincar ainda mais com a minha filha que está prestes a fazer 8 anos de idade. Mas — e que isto nunca sirva de desculpa — ou porque estou cansado do trabalho ou porque apenas queria ter algum tempo para mim, para ler, para escrever ou simplesmente ver uma série, opto, por vezes (erroneamente), por declinar a oferta de brincar com a minha filha. Feriados e sábados, muitas vezes, significam dias de trabalho e, igualmente, dias de ausência na vida da minha filha. E é ver a mãe dela a tentar fazer o duplo papel de mãe e pai durante a minha ausência que me faz sentir a pior pessoa do mundo, o pior pai e o pior marido.

Devido ao trabalho, estou a perder aquilo que é, de facto, o mais importante nesta vida: a vida familiar. Idas ao cinema, almoços em família, idas ao parque e, principalmente, ter todo o tempo do mundo para brincar com a minha filha — e evitar assim facadas inocentes no coração com a mensagem de que estou a falhar como pai. Tudo isto passa rápido demais e, por vezes, dou por mim a interrogar-me:

“Valerá assim tanto a pena trocar tempo precioso em família em prol de trabalhar para facultar bons tempos em família?”

Trata-se de um paradoxo estranho, porque optando por qualquer das opções irei sempre acabar por perder algo. Um dia, quando souber gerir este paradoxo já irá ser tarde demais porque isto…

…passa rápido demais.