EU PROCRASTINO, E TU?

Existem dois tipos de pessoas; as que possuem uma aptidão inata para não conseguirem parar de fazer tarefas, e aquelas que, como eu, adoram inventar desculpas para não fazerem qualquer tipo de tarefa. Se bem que, no meu caso em particular, a vontade até existe, mas por uma espécie e receio interior, acabo sempre por optar pela prática da procrastinação pura e dura. Há quem fale da Síndrome do Impostor, onde se tem sempre a ideia de que algo ou alguma ideia que se teve — e que, efectivamente tem ou teve muito valor e sucesso — é algo que não é assim tão bom e que as pessoas estão a ser injustamente enganadas. Mas, no meu caso em particular, para chegar ao nível da Síndrome de Impostor ainda existe uma barreira enorme chamada Procrastinação.

Dou por mim inúmeras vezes a arranjar desculpas para não fazer aquilo que tanto gosto de fazer, como por exemplo, aquilo que estou a fazer neste preciso momento — escrever. Invento tarefas inadiáveis só para ter um motivo absurdo para não me sentar em frente ao computador a escrever. Agora que me debruço mais sobre este tema, penso que ser uma espécie de “maluquinho das limpezas caseiras” foi algo criado no meu subconsciente para praticar a arte da procrastinação. Quando tenho alguma ideia para escrever, acabo sempre por achar algo em casa desarrumado ou sujo e apresso-me a arrumar ou a limpar. E o facto de ter optado pela limpeza retira-me imediatamente qualquer vontade existente que tinha para escrever.

Outra forma de procrastinação passa pelas séries ou filmes. Posso levar um dia inteiro a reflectir sobre um tema em especial para escrever, mas assim que chega a hora de “teclar” de forma insana, opto imediatamente por sentar-me no sofá e ver aquela série ou filme que acabou de sair na Netflix. E mesmo que diga mentalmente para mim mesmo que vou apenas ver um episódio e depois irei focar-me em escrever sobre aquela fantástica ideia que tive, acabo sempre por dar preferência a ver mais um episódio e a ideia de escrever passa automaticamente para o dia de amanhã. E esse dia de amanhã acaba por ser sempre substituído por mais um motivo qualquer que me leva a procrastinar uma vez mais.

Existe mais uma forma de procrastinar que vou praticando de vez em quando. Tenho a sorte de ter um pequeno escritório em casa, com uma biblioteca pessoal já bastante preenchida. Mas, apesar deste cenário idílio para um amante da escrita e leitura, existe um tendão de Aquiles que teima em tornar aquilo que, à primeira vista era perfeito, em algo que nunca está bem, certo ou finalmente em harmonia para poder sentar-me ao computador a escrever — falo, obviamente, da mesa de escritório. A mesa ou as estantes repletas de livros que, teimosamente e de forma embirrante até, continuam a não estar perfeitas. Cada vez que entro no escritório para me sentar à mesa do computador ou para ir ler um livro, a primeira reacção é observar com atenção as estantes e a mesa do computador e imaginar mil e uma maneiras diferentes de as dispor naquela divisão da casa. E, obviamente, aquilo que iria fazer de forma primordial, acaba por passar para segundo plano. E o mais absurdo é que, depois, acabo por ficar revoltado comigo mesmo por ter procrastinado uma vez mais.

De modos que… vai-se lá saber como é que consegui escrever este texto sem ter optado por procrastinar. Caramba, devo estar doente…