O MEU MUNDO INVERTIDO

Para os fiéis fãs de Stranger Things, o mundo invertido é uma espécie de realidade obscura onde o terror impera e onde demónios tentam destruir a humanidade. Tudo é ficcional, pois trata-se de uma série da Netflix que tem milhares de seguidores por todo o mundo. Mas, apesar de todo o conceito ser uma obra criada, a verdade é que todos nós podemos também ter o nosso próprio mundo invertido. A realidade em que vivemos é cada vez mais agressiva, assustadora e capaz de nos fazer recear pela vida ao sair simplesmente de casa para ir comprar pão. E isso pode, efectivamente, levar-nos a encontrar uma espécie de refúgio na nossa própria mente, fugindo do mundo em que vivemos e criando um mundo só nosso.

Ora, isso podia até ser positivo se esse nosso próprio mundo invertido fosse um local agradável de se estar, onde a felicidade e o bem-estar imperam em prol de uma melhor qualidade de vida no que a ter uma mente saudável diz respeito. Mas é totalmente o oposto no meu caso em particular. O meu próprio mundo invertido, ao contrário do que seria suposto, não é sítio agradável para se estar. Dentro desse mundo eu criei todo um conceito de dúvida, de falta de auto-estima e de rebaixamento psicológico e, por vezes, até físico — o que, invariavelmente, explica o porquê de eu sempre que visito o meu próprio mundo invertido, regressar cansado, infeliz e completamente derrotado mentalmente. Lá eu não sou boa pessoa. Lá eu sou um mau marido, um mau pai, um mau filho e ainda um péssimo irmão. No meu mundo invertido eu não sei fazer nada bem e é também lá que muitas vezes questiono o que estou a fazer no mundo real e qual o meu propósito de existência.

E tudo isto cria um sentimento de desnorte. Sinto-me perdido porque não sei onde deva existir — na realidade ou no meu mundo invertido. O facto de ser uma pessoa negativista ou pessimista no mundo real, faz-me querer cada vez mais visitar o meu mundo invertido, onde posso ser tudo aquilo que não me faz bem, mas que, paradoxalmente, me faz sentir bem comigo mesmo. Existe uma linha ténue entre os dois mundos que me enche de curiosidade como não é possível que se juntem, que se detonem em uníssono criando um mundo perfeito para que seja possível eu aceitar o meu lado mais negativo e tudo aquilo que me rodeia.

Até que esse dia ocorra (se isso for possível…), resta-me viver, seguir em frente. Ou seja, todos os dias acordar sem saber em que mundo estou; no mundo real ou no meu próprio mundo invertido…