As mulheres merecem um amor feliz

Não conheço um casamento verdadeiramente feliz. É uma afirmação dramática para início de uma crónica, não concordam leitores? Então antes de continuarem a leitura deste texto, aconselho a beberem um copo de água com açúcar, para evitarem ansiedades e secura na boca.

Eu não tive um casamento feliz. Não existem pontas soltas, não ficou nada por dizer nem nada por fazer, restou a mágoa e depois o perdão. Ainda estou a fazer as pazes com o meu passado. É um processo mental moroso e doloroso também, mas estritamente necessário para seguir com a vida para a frente. A mim aconteceu o que acontece a grande parte das mulheres: Um amor de adolescência, o casamento, a casa, os filhos, o cão e o gato (não necessariamente por esta ordem), o amor fica para segundo plano, os filhos são a prioridade, o homem vai crescendo profissionalmente, a mulher torna-se dependente financeiramente, a parte emocional é arrasada nos pequenos detalhes do dia-a-dia, passam vinte anos, os filhos crescem, a mulher percebe que não é feliz e decide ir embora. As mulheres merecem um amor feliz, os homens também.

Meses antes do divórcio, lembro-me das duras palavras: Vi a Sílvia na rua, de calções curtos a ver-se tudo, a chorar, tem algum jeito uma mãe de três filhos andar assim vestida? Mal sabia ele e eu também que, algum tempo depois seria eu, Sandra Castro, mãe de dois filhos convém salientar, a deambular pela rua, não de calções curtos nem a chorar, mas de saia bem curta e feliz da vida, a curtir a liberdade de não viver presa a mentalidades machistas e egoístas, a mulher, meus caros, vive para viver bem e feliz, com calções curtos ou sem eles. Talvez seja esse um dos grandes problemas das relações, os homens casados não imaginam as suas mulheres de calções com tudo à mostra a passear pelo quarto, muito menos pela rua, mas gostam de ver as mulheres dos outros, a deles preferem que esteja na cozinha, a cheirar a fritos, com o cabelo emaranhado e de avental sujo, cheia de stress enquanto prepara uma tachada de bifanas.

Na noite do meu casamento lá estava eu, três horas da manhã, sentei-me na beira da cama e sozinha despi lentamente o vestido branco de noiva, enquanto as lágrimas escorriam no meu rosto e esborratavam a leve maquilhagem, despi a liga e descalcei os sapatos, o noivo dormia pedrado e perdido de bêbado, nessa noite aprendi uma importante lição que foi valiosa nos anos seguintes: Nunca te deites ao lado de um homem que já não sente nada por ti. Eu sou uma mulher de poucos amores, gosto de ser assim, prefiro intensidade à quantidade, das duas vezes que eu senti que o amor já não dormia comigo, levantei-me e fui embora, para nunca mais voltar. As mulheres merecem um amor feliz, os homens também.

O amor é paz. O amor dá-te tranquilidade, não a destrói. O amor não é sacrifício, não é dor nem mágoa. O amor é completude e plenitude. O amor é dormir de conchinha e sentir que não há outro lugar no mundo que quisesse estar senão ali. O que nos ensinam sobre o amor está errado.

Sonho em casar novamente. Vestida de branco e de rosa vermelha na mão, sonho ouvir um Sim, eu aceito! de um homem tremendamente louco por mim. Só eu e ele, uma lingerie branca e acetinada, dois copos de vinho tinto e as nossas inconfundíveis gargalhadas. Estou perdidamente apaixonada, é normal que assim pense e assim me imagine. Depois do Sim, passar o final de tarde e a noite a fazer amor incessantemente, num bungalow num canto qualquer. Não é assim tão difícil fazer uma mulher feliz, pois não?