Uma Saudade Portuguesa Com Certeza – Carla Vieira

Quando pesquisamos a palavra “saudade” num qualquer motor de busca (Ou apenas o Google porque todos sabemos que ninguém usa mais nada), não é difícil encontrar websites dedicados aos chamados “lexical gaps” e a importância tremenda que esta palavra tão nossa tem para outros países. Que ninguém nos venha dizer que a expressão “sentir saudades” não é tão exclusiva quanto isso; toda a gente no mundo sente saudades, mas apenas nós sabemos o que isso é.

Lembro-me que estava numa aula de Inglês na Faculdade há alguns anos atrás e uma estudante de ERASMUS disse no seu franzino Português que só depois de ter chegado a Portugal é que entendeu o que significa ter saudades: da família, dos amigos, daquelas pessoas ainda mais próximas… A verdade é que, tendo as outras línguas esta falha lexical, a nossa pequena “Made In Portugal” carrega ainda mais alma e sentimento do que outras variadas palavras que por aí andam. Elas andam aí, e até podem chegar tão pertinho da nossa que praticamente dão as mãos; mas saudades são saudades, e só nós é que sabemos o que isso é.

Enganem-se aqueles que dizem “tenho saudades tuas” quando querem dizer “sinto a tua falta”. Andamos a brincar ao desgaste das saudades até banalizarmos e enfiarmos a palavra no saco do comum. Sentimos a falta de alguém quando esse alguém vai para fora durante alguns dias ou semanas, mas as saudades… As saudades doem no coração.

As saudades, começamos a senti-las quando ainda temos essa pessoa à nossa beira mas já nos aperta a alma saber que é tempo emprestado e que daqui a xis tempo essa pessoa já cá não vai estar. As saudades existem porque já sabemos que vamos “sentir a tua falta” embora ainda não precisemos de sentir. Dizemos às vezes no momento de partida que vamos ter saudades, mas na verdade já as estamos a sentir, já sentimos o coração na mão e a alma enrolada num canto aquando daquele último abraço.

Também não sentimos saudades de toda a gente que conhecemos. Existem muitas alminhas que por aí andam que, embora se conheçam e não estejam juntas há muito tempo, não sentem saudades umas das outras. A piada está aí: só sentimos verdadeiramente esta agonia quando nos afastamos de pessoas que temos tão junto ao peito que parecem lapas, e quando vão até sentimos um pedacinho do nosso coração a ir com elas; como se morrêssemos durante um milésimo de segundo e depois nos viesse salvar a mais dolorosa golfada de ar que já respirámos.

E o pior é mesmo o que vem a seguir: é a realização de que só vamos ter descanso deste peso na alma quando quem nos foi tirado regressar, seja lá quando isso for.

Quem viaja, que viaje sempre com cuidado. E voltem depressa, que há quem tenha saudades vossas.



Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente