Ana Gomes pode ser a tal…




Talvez seja ela. Aquela por quem sempre esperei. Alguém que nunca encontrara no passado. Sim, existe um certo romantismo nas minhas palavras, porém, não com o sentido galante do termo. Digamos, num sentido feito de surpresa. O facto é que o cepticismo em mim esbarrou na esperança. O sentimento que me aflige há muito parece desvanecer-se perante a sua candidatura. Será? Será que vale a pena? Será ela merecedora do meu esforço? É que aquele que vos escreve nunca encontrou motivação para sair de casa e coadjuvar na colocação do indivíduo A em detrimento do B num local de poder. Nunca votei. Tive dezenas de oportunidades de o fazer. E dezenas de vezes declinei o convite inócuo das diferentes caras que pululam pelos corredores da governação.

Podem dizer que sou preguiçoso. Mas deixem-me defender a minha causa. Não era preciso ser-se muito inteligente para perceber quem é, e ao que vinha, José Sócrates. Tal como, Relvas e Coelho. Sem esquecer Santana Lopes e Ferro Rodrigues. E depois é ver os prémios de bom comportamento à frente dos destinos do País que Guterres e Durão receberam. Se isto não torna o cidadão céptico, existe um romantismo a morar na sua cabeça bem pior do que aquele que esteve na génese deste texto.

Não serão todos iguais. Assim alguns dizem. Mas estes eram mais iguais que o comum dos mortais.

Não é minha intenção dizer que isto é maleita que só afecta políticos. O povo tem a liderança que merece. Nós somos os políticos que formamos. Nós, que aceitamos a “cunhazita” para a colocação de um filho ou um primo num local onde haviam outros candidatos mais capazes, que aceitamos facilmente o pedido dalguém para se colocar à frente de uma lista de outros pacientes por cuidados de saúde, que aceitamos a reversão de uma qualquer multa resultante de um pedido a um amigo colocado nas forças de segurança. Nós somos assim. Eles não podiam ser doutra forma. É a lógica dos números.

Por isso, sim, digo que sou contra o sistema. E gosto de pessoas que também o são, neste sistema edificado no “compadrio”. Serei populista ao dizê-lo? Talvez. Será que ela é populista? Por certo que sim. Ao colocar-se de fora de um circuito de que também foi parte integrante, ela está a ser populista. Ao gritar bem alto as suas causas, ela está a ser populista. Ao defender delatores de moral duvidosa, ela está a ser populista.

Isso é tudo verdade. Mas e então? Nós chegamos a uma altura em que o populismo é a única forma de mudar algo. Eu sei, estranhos tempos, mas os anteriores também não me parecem dignos do maior orgulho dos seus contemporâneos.

Ana Gomes pode ser a tal que me faça sair de casa com o objectivo de a colocar na presidência da República Portuguesa.

Porquê? Porque estou farto de políticos correctos na praça pública a contrastar com o comportamento fora do olhar dos seus eleitores. Estou farto de políticos que nada fazem contra a corrupção que graça pelo País fora. Estou farto de políticos que atiram bolachas de água e sal aos esfomeados para estes não perceberem o bolo de quarenta camadas que está a ser comido por poucos.

Sim, é populista. Mas um Presidente que simula salvamentos de banhistas com coletes de protecção, que nada diz sobre o maior roubo da história portuguesa, que por acaso teve epicentro na acção do seu amigo íntimo, que tira infinitas fotos para cegar com o flash os seus eleitores, que está mais interessado em programas da manhã que em tomar decisões difíceis, mas necessárias, para o futuro do País que lhe deu importância, é menos populista?

Não.

Eu sei que ela é populista. Mas eu prefiro a populista que denuncia aos gritos, mesmo que de forma colérica e irritante, os casos de corrupção, melhor, em bom português, os roubos e seus operacionais, do que o populista carinhoso, e até fofinho, que se senta à mesa dos ditos corruptores e não mexe um músculo contra eles.

Ana Gomes não vai mudar Portugal sozinha, é certo, mas vai tentar. E isso, apesar de parecer pouco, basta-me!