Arménia vs Portugal: O abono de família que esconde as fragilidades gritantes.

Histórico. Para quem apenas viu o resultado e constatou que ao fim de três jogos(!!) ganhámos em casa à toda poderosa, seleção da Arménia. Desolador. O sentimento de todos os adeptos de futebol – não apenas portugueses – que viram o jogo e constataram a mediocridade exibicional de uma seleção que está no top 10 do ranking FIFA. No passado sábado Portugal acabou por ganhar 2-3 à Arménia, num jogo em que de tão amorfo que foi – por parte da equipa das quinas -, fez a seleção da casa parecer um colosso mundial. No fim, tudo foi resolvido pelo mesmo de sempre: o abono de família português que esconde todas as fraquezas e fragilidades dos companheiros e da equipa técnica.

Quem olhasse para os onzes apresentados, para o histórico, ou até mesmo para a classificação do grupo, não conseguia antever um jogo tão “equilibrado” e com um domínio em toda linha da Arménia em várias alturas do desafio. Porém, o futebol é assim, profícuo em surpresas. Sendo só uma surpresa para quem não viu o jogo. Quem – penosamente – foi “forçado” a assistir, porque o coração não deixava ignorar, viu um jogo totalmente desinspirado, sem garra, sem criatividade, sem chama e, o principal problema, sem qualidade absolutamente nenhuma por parte de Portugal. Uma vitória suada, que tem o seu quê de injusto num embate que devia ter sido tudo menos sofrido. Nada que surpreenda muito numa qualificação que tem sido marcada pela mediocridade futebolística e pelas vitórias sofridas frente a seleções de tarimba mundial, como é o exemplo da Albânia; da Arménia; da Sérvia; ou da Dinamarca. Um selecionador que se diz capaz de vencer o Euro2016, tem de fazer mais. Muito mais.

O confronto ficou logo apresentado nos primeiros minutos, com a equipa da casa a construir no nosso meio-campo e a dispor de diversas jogadas de entendimento que baralhavam os nossos jovens centrais. Do nosso lado, nem uma boa jogada para a amostra. Uma equipa lenta, sem visão de jogo, insegura e com muitos – demasiados, até – passes falhados. Posto este cenário, a bomba de Pizzelli que apanhou Rui Patrício em contrapé – será que ia ao pão? – acaba por colocar alguma justiça no marcador, sendo um balde de água fria para todos os portugueses. A reposição do resultado foi rapidamente efectuada através da conversação de uma grande penalidade pelo melhor jogador português de sempre. Após o 1-1, o jogo continuou na mesma toada, sem que a equipa das quinas se conseguisse libertar das amarras da apatia. Os centrais estavam descoordenados; os laterais eram constantemente ultrapassados; o meio-campo não criava nem pressionava e Danny era um peso morto. Foi desta forma que se chegou ao intervalo. Poder-se-ia pensar que Ilídio Vale iria saber motivar a equipa ao invés das palmas seguidas de um “vamos”, que tão bem sabe fazer. Nada disso. A palestra, ou a falta dela, do técnico que está a substituir Fernando Santos, ficou bem patente na exibição paupérrima realizada na segunda parte. No entanto, podemos estar quase sempre descansados quando temos Cristiano Ronaldo que, uma vez mais, levou a equipa às costas e marcou dois golos de belo efeito e quase de rajada. Estava tudo a encaminhar-se para ser uma vitória tranquila e fazer com que os adeptos se esquecessem da nulidade exibicional apresentada, até que, ao bom jeito português, Tiago decide tornar as coisas mais interessantes fazendo-se expulsar. Até ao fim do jogo os Arménios ainda contaram com a preciosa ajuda de Rui Patrício para marcar mais um golo, não sendo, todavia, capazes de chegar à igualdade. Mkhitaryan e Pizzelli bem lutaram e bem assustaram, não recolhendo os frutos de tanto esforço. Acabou assim o jogo e o que fica para a história são os 3 pontos e a primeira vitória no terreno da toda poderosa, Arménia. O vazio de qualidade e a falta de chama verificada? Que interessa? Afinal de contas ganhámos, não é assim? Não devia ser.

Uma equipa que está inserida num grupo no qual é, de longe, a seleção com mais qualidade e com mais nomes de nível mundial, não pode nunca demonstrar uma falta de carisma e empenho tão gritante. Para quem tanto crucificou – e com razão – Paulo Bento pelos resultados e as exibições apresentadas, os portugueses estão-se a insurgir pouco com o vazio de ideias presente na equipa de Fernando Santos. O novo timoneiro da equipa das quinas pouco ou nada tem feito de melhor. A equipa ganha mais vezes, é verdade. No entanto, o futebol praticado é demasiado incaracterístico e só surte resultados porque há um jogador a carregar a equipa às costas, e em virtude de estarmos presentes num grupo fraquíssimo. Não que fosse de se esperar mais de um selecionador que convoca o Eliseu e o põe a titular; que prefere o Bruno Alves em vez do Zé Fonte; que joga com o Coentrão a médio quando rende muito mais a lateral; que joga com o Danny quando este é claramente uma nulidade na equipa portuguesa; quando prefere Patrício tendo Anthony Lopes, ou mesmo quando opta por uma esquema de 4-4-2 tendo Portugal extremos de tanta qualidade. Tudo isto tem apresentado Fernando Santos enquanto treinador. O tão desejado “salvador da pátria”, tem feito tudo menos potenciar a qualidade de um país tão rico em talento futebolístico. Em vez disso opta por apostar em velhas “carcaças” que já passaram o seu auge há muito. Muitos deles nunca o tendo atingido. A sua sorte são os resultados, que até têm sido positivos. E quando os adversários não forem a Arménia e a Albânia? E quando o oponente mais forte que teremos de enfrentar não seja a Dinamarca? Como será nessa altura, Fernando? O Eliseu continuará titular? As vitórias vão surgir com tanta facilidade? As respostas parecem óbvias, mas deixaremos o tempo dar razão a quem a tem. Alguém que não é, claramente, Fernando Santos.

Assim estamos nós, um país à beira-mar plantado que é salvo constantemente pela figura mais próxima de um super herói que temos no momento, Cristiano Ronaldo. O madeirense vai salvando a seleção portuguesa vezes e vezes sem conta, até ao dia em que ele não estiver e nos tivermos de virar sozinhos. Nesse dia convinha ter alguém que realmente entendesse o jogo, que o percepcionasse da forma correcta e que conseguisse fazer uma equipa e não um conjunto de 10 homens dependentes de outro. Até lá, vamos rezando a Ronaldo e sabendo que enquanto o abono de família existir, as fragilidades da equipa vão estar sempre camufladas por trás da qualidade do número 7. Que seja assim mais uns anos, porque o cenário depois disso, não parece o melhor.