A Livreira – O Convite

“Carpe Diem”

Walt Whitman

 

Miguel chegou à livraria com o livro de Miguel Sousa Tavares na mão, requisitado gentilmente no serviço de empréstimo domiciliário de livros que a livraria dispõe desde a sua abertura, com o objectivo de angariar  clientes e promover a leitura dos portugueses que, infelizmente, anda a níveis catastróficos comparativamente a outras cidades europeias.  Boa sugestão, disse Miguel, Rio das Flores é um livro muito interessante e a história muito apelativa. Obrigada, disse a Livreira, desviando subtilmente o olhar e, numa tentativa de prolongar a conversa questionou se a pessoa especial tinha gostado do livro, Sim, a minha irmã gostou muito. Miguel sorriu, pela primeira vez em muito tempo sentiu algo diferente, a ousadia de colocar um papel com um convite no meio do livro emprestado e, agora devolvido às suaves mãos da Livreira era a prova disso.

Despediram-se com um breve aceno Até um dia destes…a Livreira ficou imóvel vendo-o sair da livraria, era de facto um homem bonito, feições salientes de homem vivido, charmoso com a sua camisa abotoada e as suas calças de sarja de cor clara, as mãos grossas e cicatrizadas, um sorriso encantador, seguro nas suas palavras e o olhar sempre em direcção ao dela enquanto conversavam, quantas pessoas encontramos ao longo das nossas vidas com quem conseguimos olhar directamente nos olhos enquanto conversamos? Poucas, diria até escassas…sim, deve ser um homem muito interessante! O devaneio da Livreira cessou assim que ela se apercebeu que o seu pensamento estava a ultrapassar os limites do que ela estipulou para si mesma há algum tempo: Não se iria entregar a uma paixão efémera nem a um falso amor, nenhum homem era merecedor da sua essência. Ao abrir o livro para verificar se estava em condições, cai no chão um bilhete que tinha escrito as seguintes palavras:

“Livreira, bonita e prazerosa

Quero-te convidar

Para te conhecer numa prosa

E no parque passear

Para conversar e rir

Algo que sempre quis

Se vieres vou sorrir

Às 19 junto ao chafariz”

Às 19 horas a Livreira fechou as portas e com uma empolgação que tentou disfarçar, saiu da sua rota habitual e dirigiu-se para o parque…

 

Continua

Nota: Esta história tem co-autoria de Miguel Martins.