“O erotismo é uma das bases do conhecimento de nós próprios, tão indispensável como a poesia.”
Anais Nïn
Estavam os dois sentados no banco vermelho desgastado pela erosão do tempo, à sua volta carvalhos despidos das folhas outonais cerravam o cinzento do final de tarde, pássaros apoiados nos ramos das árvores faziam-se ouvir no suave chilrear, à frente um chafariz de água turva gotejava a um ritmo lento e monótono, diferenciado do ambiente no parque infantil situado a dez metros, onde crianças brincavam, esbracejavam e gritavam sobre os olhares atentos e cansados dos pais, no banco ao lado um casal de idosos sorria de mão dada para os transeuntes que passavam indiferentes à beleza do parque, no banco mais à direita dois jovens amigos partilhavam umas sandes e soltavam umas gargalhadas enquanto olhavam para os respectivos telemóveis. A Livreira estava nervosa, o Miguel ainda mais.
– És tão bonita! Disse, espontaneamente, à Livreira, enquanto esta lhe descrevia o seu dia a dia trivial e aprazível, Miguel admirava ao pormenor a feição do seu rosto, a forma tímida como ela olhava para ele, os gestos serenos e levemente contidos, apreciava o pequeno decote da sua blusa e as covinhas nos elegantes joelhos evidenciados pela saia preta travada, adorava o sorriso encantador e o modo como mexia o cabelo castanho e despenteado. Trincou o lábio quando ele a elogiou, os sentidos de ambos apuraram-se, intensos, puros, breves, ela imaginou que ele a beijava, ele imaginou que fazia amor com ela…
– Que livro estás a ler?
– Delta de Vénus.
-É um livro de contos eróticos, não é?
-Sim, é…
Continua
Nota: Esta história tem como co-autor Miguel Martins.
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