A hipocrisia Natalícia

Farto de ver a felicidade estampada nas caras de outros, ele decidiu que estava na hora de finalmente optar por algo mais agressivo para colocar um fim à tortura de que era alvo todos os anos, quando chegava o Natal. Tal e qual um morcego, ele decidiu abandonar a sua caverna e viajar até Wuhan. Mascarou-se de cientista e roubou um maldito vírus, de seu nome Coronavírus, e regressou para a sua caverna sem que ninguém sequer tivesse dado pela sua presença, apesar de o seu tom de pele não passar despercebido a ninguém.

O plano era muito simples: estava na altura de erradicar do mundo aquela aberração que se dá pelo nome de “espírito de Natal”. Todos os anos, enfiado e aborrecido na sua caverna, ouvia os tortuosos sons do Natal, os sinos a tocar, as músicas de Natal, a multidão insana a invadir lojas e centros comerciais na loucura de adquirir presentes. A tortura era por demais e acontecia todos os anos e não havia forma de terminar. Mas, naquele ano, o seu plano maquiavélico iria funcionar. Tinha de resultar.

Mascarou-se de Pai Natal, saiu da caverna e misturou-se com a multidão, espalhando o vírus por todos, enquanto tentava falsamente sorrir e mostrar-se comprometido no horrível “espírito de Natal”. O plano, mais concretamente, seria atingir primeiramente os mais idosos, pois seriam eles os que continuavam a incentivar as crianças a celebrar o Natal. As pessoas rapidamente começaram a adoecer e, nesse Natal, o vírus espalhou-se pelo mundo inteiro num ápice — para seu gáudio pessoal. O plano estaria a resultar.

As pessoas juntaram-se e criaram vacinas. Começaram a lutar contra o vírus, contra a erradicação não só da humanidade, com também do próprio Natal — que ele tanto odiava. Não desistiu. Lançou novas variantes do vírus. Primeiro a ALFA. E as pessoas foram resistindo, apesar dos milhares de baixas em todo o mundo. Depois, não satisfeito, decidiu lançar a BETA. O Natal continuava a ser celebrado e isso teria de acabar de uma vez por todas. Chegou a vez da variante GAMA e, mesmo assim, os teimosos dos humanos continuavam a lutar e a celebrar o Natal. A DELTA prometia, de uma vez por todas, erradicar o Natal, mas teve igual efeito que as anteriores variantes lançadas por si. Por fim, já desesperado, acabou por lançar a variante OMICRON. A Humanidade, talvez já um pouco exausta e saturada, continuou a ignorar o vírus e a celebrar o Natal.

E ele, infelizmente, continuou a viver em solidão na sua caverna, ouvindo as músicas de Natal, os sinos e as pessoas numa azáfama horrível em busca de presentes para oferecer aos familiares.

Na verdade, Grinch não queria acabar com o Natal só porque não gostava do Natal. O que ele realmente queria era erradicar do mundo a hipocrisia existente nas pessoas que passam o ano inteiro a falar mal da sua família e que, na Ceia de Natal, à mesa com esses mesmos familiares, publicam fotos no Instagram e Facebook com a hashtag #omelhorNatalcomamelhorFamíliadomundo.

Pode ser que, para o ano, o Grinch seja finalmente bem-sucedido.

Um Feliz Natal para todos.