Balanço de 2016 e as hipócritas mensagens de Natal

Estamos ainda no princípio de Dezembro mas urge fazer desde já o Balanço de 2016. Mesmo que não leiam, urge registá-lo por escrito. Até porque começam a ser trocadas hipócritas mensagens de Natal que vêm de pessoas que nem sequer estiveram interessadas se eu respirava ou não – mas agora querem ficar bem “no retrato”…

2016 foi o segundo pior ano da minha vida. Pronto! Aconteceu.

Começou muito mal logo no dia 1 de Janeiro, pelas 3 da manhã, com a minha chegada ao aeroporto de Luanda. Aqueles que comigo privaram sabem que este foi um episódio dos mais infelizes da minha vida: detida (por algo que nunca me deveria ter sido imputado), humilhada e depois liberada, mas sem passaporte (após ter conseguido contactar um advogado português às 6 e pouco da manhã…). Um estrangeiro sem passaporte fica, para quem sabe, o mais vulnerável que se imagine.
Depois, toda a situação de crise em Angola, os pagamentos não efectuados, pressões de vária natureza, os dinheiros que não havia, os kwanzas que não se conseguiam trocar por dólares ou euros… a subida da criminalidade no Huambo, hospitais sem meios de tratar pessoas, farmácias sem medicamentos (importações “trancadas” e com falta de comprimidos para a malária, por exemplo, ou pomada para as picadas de mosquitos…).
A decisão de partir e a chegada mais tarde a Portugal não foi fácil. Não posso deixar de fazer este Balanço. Exactamente desta maneira.outofafrica

Em 2016 perdi. Perdi dinheiro. Perdi pessoas. O meu mano Jaime a morrer com um cancro (o que sucedeu a 31 de Maio); o meu primo Paulo em Julho, a morrer inesperadamente três dias depois de termos estado animadamente a comer um sushi (ele adorava sushi!); notícias de outros cancros; a morte inesperada do Arsénio a 17 de Novembro…constam como débitos neste Balanço de fim de ano.

Mas também perdi outras pessoas – ou se calhar nem as perdi – porque já estavam perdidas. Ou nunca foram achadas. Os amigos que julguei ter e enganei-me. As pessoas (incluindo alguns membros da família) que maldosamente criticaram o meu casamento com uma pessoa estrangeira, muçulmana e negra. Alguém que não conhecem, com quem nunca privaram mas que se julgam no direito de criticar. E fizeram-no directa ou sobretudo indirectamente.

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As outras pessoas a quem pedi ajuda e que acharam que eu estava a queixar-me muito…a todos aqueles que ignoraram as minhas mensagens, se desligavam quando me viam online e que nem sequer tiveram tempo para beber um café comigo. Mais débitos neste balanço…
As pessoas em quem confiei – e não o devia ter feito – e que me julgaram idiota ou boazinhatrop bon trop con, como dizem os franceses – e que me devem. Devem mesmo – sobretudo respeito.
A lista é grande, mas não pretendo aqui alargá-la mais. Apenas pretendo declarar que ao perder muita desta gente, ganhei outras pessoas.

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Sou grata por tanta dor e silêncio – porque me ajudou a crescer! Porque alguns dos meus amigos se mantêm firmes e a esses sou grata. Os de Angola, os meus queridos alunos…e perdoem-me aqui por não mencionar os seus nomes. Os amigos de Portugal (os poucos que restaram) e de outras partes do mundo (porque sou uma cidadã do mundo – e não é cliche…). Os novos amigos que vou fazendo e que me têm vindo a ajudar em questões importantes que se relacionam com a minha sobrevivência e trabalho (ou angariação do mesmo)…o meu muito obrigada! Créditos neste Balanço.

 2016 trouxe-me o casamento com o meu querido marido  e contrariando as expectativas de muitos que aqui acharam que ele – ou eu – estávamos a fazer “um negócio” – porque, com tanta mulher bonita por aí, porque escolheria ele a Anabela? A questão também se colocou ao contrário: porque o teria eu escolhido? Se calhar era rico…é, com efeito, um homem muito rico. Feito de outras riquezas que muitos não entendem. Há ligações entre nós que só nós compreendemos…. mais créditos no meu balanço de 2016.

2016 foi o segundo pior ano da minha vida mas ajudou-me a crescer; a limpar o joio do trigo e terminará em beleza. Porque sei que estarei onde tiver que estar. Onde for necessária. Onde Deus achar que é o meu lugar.

  Por favor não me enviem mensagens de Natal, nem mensagens “a correr” com muitos beijinhos e sem conteúdo. Já fui algumas vezes aos subterrâneos de mim mesma e sou como uma Fénix: regresso das cinzas para me reconstruir – e estou a fazê-lo.
Aqui neste canto onde me encontro, sou uma guerreira e muito mais forte do que imaginam….sou um milagre e vivo num milagre.

Recebam com muito amor a minha mensagem de Natal: um mantra (oração) sobre a Paz. Afinal parece que é mesmo aquilo que mais precisamos como oferenda.