A liderança visionária

Querido leitor, vamos falar acerca do tema «liderar»? No meu reportório editorial nesta revista «+Opinião», este tema já não é desconhecido; entre algumas crónicas já publicadas estão: «Capital mental», «Avaliação de riscos psicossociais», «Liderar – Movimento de Vida», entre outras.

Liderar… parece fácil a perspetiva… dar ordem ao outro, colocar condições à ação do outro, adicionar, renunciar, rever, vislumbrar atitudes… tudo na proporção do que se entende ser o ideal para o alcance do sucesso de algo. Porém, atendemos à realidade e vemos trabalhadores descontentes, condições muitas vezes precárias e situações com as quais nos deparámos e interrogamos: «Como é que em 2014 isto ainda é possível». É claro, ninguém é dono da verdade, tampouco as verdades inteiras são verdades absolutas e objetivas, contanto, no que respeita à liderança, existe uma mesma afirmação: «Uma boa liderança não se prende primeiramente com o objetivo de ter ou com o objetivo de lucro». A sensatez de um líder está relacionada com uma visão liberada e visionária, não está restrita a uma gestão fracionada nem sequer de  uma imposição de: «este é o caminho a seguir e pronto».

A liderança visionária incute, espera, incita, valoriza, potencializa, permite, pergunta, partilha e recebe o feedback da mesma; a liderança visionária pára, escuta e sabe que «se as pessoas que estão consigo alcançam o sucesso, consequentemente o líder também o terá. Quando o lider visionário se permite potencializar as aptidões dos seres humanos e estes manifestam as suas capacidades, competências e talentos, acabam por encontrar um sentido de propósito comum, e consequentemente geram uma resposta favorável para os dois e para a empresa, fruto desse estilo de liderança. A pressão, os condicionamentos exigidos, o desdenho, as ditaduras mandatárias e interpretativas acabam por ‘tolher’ a esperança, a energia e o alento espiritual dos trabalhadores.

«A tarefa mais importante de um líder visionário é a de honrar e dignificar as vidas das pessoas que lidera, permitindo-lhes manifestar as suas potencialidades mais elevadas por via do trabalho que fazem.» (Sharma, 2010). Quando assim é, existe um esforço para que as pessoas desenvolvam os seus recursos naturais, partilhem a sua visão e o seu propósito com o «líder» afim de encontrarem o «porque realizo determinado trabalho do modo mais perfeito possível» e perceberem, líder e líder-sem-título, o alinhamento cúmplice da visão dos dois, em prol do seu sucesso pessoal e conjunto, reflexo de crescimento e desenvolvimento pessoal e organizacional. Se deste modo, o trabalhador achar uma causa maior, que dê sentido ao seu esforço pessoal, capaz de o realizar enquanto pessoa e profissional, é claro que à partida, o seu rendimento trará benefício em quem confiou em si, em quem lhe mostrou sinceramente, de que forma a sua visão da empresa a poderá ajudar a sentir-se realizado, respondendo à panóplia de anseios e sonhos que encontra na sua vida.

Segundo a mitologia indiana, todos os seres humanos terrenos já foram deuses. No entanto, começaram a abusar do seu poder, pelo que Brahma, o deus supremo, decidiu retirar-lhes esse dom, escondendo a cabeça de deus, num local onde nunca a encontrassem. Um conselheiro sugeriu que fosse enterrada numa cova funda, mas Brahma desaprovou a ideia. Segundo ele, «a humanidade escavaria até encontra-la». Outro conselheiro sugeriu que a cabeça de deus fosse escondida nas profundezas do oceano. «Não,» retorquiu Brahma, «a humanidade acabaria por atingir as profundidades e por encontrá-la». Outro conselheiro sugeriu que se levasse a cabeça de deus para o pico mais alto da montanha mais alta da terra, mas Brahma advertiu: «Também não, porque os seres humanos acabarão por encontrar uma forma de escalar a montanha.» Depois de muito refletir em silêncio, o deus supremo encontrou, por fim, o lugar ideal para ocultar o maior dos dons, e anunciou: «Aqui está a resposta: vamos esconder a cabeça de deus dentro do próprio homem. É o único lugar onde ele não irá à procura» (Sharma, 2010, p.68).

Esta história sublinha a grande ideia, o ‘knowing humano’ e a singularidade do homem e da importância de potencializar as suas competências e os seus recursos, fazendo-as consistir em bons propósitos, no cumprimento e resolução das suas prioridades rumo à sua realização plena, permitindo que o próprio, encorajado a desenvolver os seus recursos individuais, possam resolver seus próprios anseios e dificuldades, de modo a acolher desde sempre as virtudes do seu eu, em todas as problemáticas da sua vida.