Namorar com o trabalho – Maria João Costa

Desengane-se aqueles que pensam que trabalhar em televisão é um sonho tornado realidade. É um sonho se realmente gostarmos do que estamos a fazer, mas gostar muito, como se namorássemos com o trabalho.

Na verdade, trabalhar em televisão exige isso mesmo, exige entregarmo-nos completamente, sem esperar nada em trocar; dar o que temos e o que não temos e surpreender todos os dias. Exige gostarmos, incondicionalmente, de todos os defeitos, e encontrar o melhor nos dias menos bons; exige não usarmos relógio, e ignorarmos todos os sinais de mensagens que o telemóvel possa fazer. Estamos ali para ele, e só para ele, para o trabalho.

Mas como em todos os relacionamentos, o dar muito, o dar demasiado de nós, pode não ser sempre o melhor, pode não ser a melhor opção para nos sentirmos completos e felizes. Mas cada caso é um caso, e quando se fala em «namorar com a televisão», só assim é que a magia acontece.

Se não se gostar o suficiente, o melhor é procurar um «namorado» com hora marcada, que faça parte do serviço público, que lhe dê regalias, e que o deixe suficientemente satisfeito em oito horas diárias. Que lhe dê tempo e espaço para estar com as amigas, para ir às compras, com flexibilidade de horários e dias de folga para ir às seis e meia da manhã para a fila da FNAC comprar o bilhete dos One Direction para a filha de 14 anos. Pode não gostar dele loucamente, mas gosta o suficiente para se convencer de que é feliz, de que está satisfeita.

Mas quem «namora» com a televisão recebe muito mais do que um salário no final do mês. O trabalho de equipa une cada câmara, cada assistente de áudio, cada senhora de limpeza, como se fossem uma segunda família; o final de cada projeto deixa saudades e faz esquecer todas as horas extra, e todos os dias em que um deles teve vontade de «namorar» com o escritório. E este é talvez o melhor salário que cada um leva para casa, um «namorado» que, apesar de tudo e de muitas coisas, não desilude e faz com que se tenha mais vontade de estar com ele.

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!