+opinião – Behind the Scenes 2/3

Na minha cabeça 2012 seria o ano de implementação do +opinião. Eu estava preparado para fazer relatórios de marketing, estudar os leitores, saber o que procuravam, analisar dados, e ver como tudo poderia ser melhorado para fazer o +opinião chegar mais longe. Mas o início de 2012 só trouxe dúvidas no caminho.

No início de 2012 o +opinião tem uma proposta de compra. Sinceramente nunca tinha pensado em algo assim, nem com 50 anos de experiência, muito menos com apenas 2 meses. Fui a uma reunião, com gente simpática, ouvir o que tinham a dizer. As coisas eram simples. Basicamente eles estavam mais interessados no nome e domínio do que em qualquer coisa que aqui pudesse ser publicada. Por essa razão no momento em que fosse comprado acabava, e tornava-se no que eles quisessem. Era possível começar tudo de novo, por isso não vou dizer que não foi tentador, mas pensei que se tão precocemente tinha existido uma proposta assim, e uma empresa tinha olhado para o +opinião, é porque existia ainda mais potencial do que eu alguma vez tinha imaginado. E delicadamente a proposta foi recusada.

Ainda não tinha assentado a poeira da proposta de aquisição, e eu fui contactado para fazer parte de um dos grandes jornais online. Nada que eu nunca tivesse feito antes, mas a grande diferença é que o que me pediam é que fizesse lá o que eu tinha feito aqui. Por um lado eu era o primeiro a beneficiar do curriculum +opinião, por outro, a aceitar eu iria criar uma concorrência directa ao que eu tinha construído. Devo dizer que as pessoas envolvidas provavelmente marcaram todo este percurso, com uma enorme bagagem de experiência, e sem qualquer prepotência foi aceite que eu ficasse em ambos os lados. Eu assumia aquela que poderia ser uma concorrência directa ao +opinião, mas por outro lado de lá eu trazia conhecimentos sobre as melhores formas de publicar, truques e dicas, que muitas empresas se negariam a divulgar, sabendo que eu mantinha um projecto pessoal. E de repente eu dou por mim a ser um caça talentos, a decidir o que deve ser publicado ou não, a tentar perceber pelos textos publicados quem seria ou não uma grande aposta, para apresentar ao publico.

Novo anúncio olx, nova vida para o +opinião

Com influência ou não do +opinião, esta é também uma altura em que alguns colunistas começam a abandonar o projecto. Na maior parte dos casos, e felizmente, porque eram convidados para outros projectos maiores, e em vários casos, porque arranjavam um emprego na área. Com as publicações regulares a baixarem, era hora de uma nova busca de talentos. E este é o momento que torna o +opinião no que ele é hoje. É deste segundo anuncio (que esteve online durante uns meses) que sai o núcleo duro de colunistas que aqui estão, e outros, que tiveram influência directa na forma como ainda hoje trabalhamos.

É a partir deste anuncio que começam a publicar: Carla Vieira, Bruno Neves, Maria João Costa, Laura Paiva, Sandra Castro. Pessoas que ainda hoje fazem parte do +opinião, e fazem parte daquilo a que eu chamo o núcleo duro do +opinião.

O +opinião atravessou 2012 com mais colunistas, mais leitores, mas não era um crescimento aparentemente significativo. Poderemos considerar que foi um ano de marcar passo, comparado com o atingimos em 2013, e 2014. Acima de tudo faltava alguma coesão ao grupo, não podemos esquecer que os colunistas do +opinião estão espalhados um pouco por todo o país, e por esta altura todas as informações eram trocadas por email, de uma forma impessoal, que não fomentavam a coesão de um grupo de trabalho.

No final de 2012 é criado um grupo secreto no facebook. E rapidamente são abertas as linhas de comunicação a um grupo, que passa a ser verdadeiramente um grupo de trabalho. A trocar ideias, a mostrar resultados, a trabalhar em equipa para mudar e melhorar.

A “mãe” que impõe as regras

Com mais publicações o +opinião começava a “consumir” muito tempo diariamente, e feito como hobbie, era impossível dar conta do recado. Nesta altura pedi ajuda, ao núcleo duro para dividir a tarefa com alguém. A Laura Paiva surgiu na linha da frente, simpática, disponível, e cheia de vontade em ajudar o +opinião. E a Laura virou o +opinião do avesso.

Confesso que até aqui não éramos muito disciplinados, não havia de todo coesão de grupo, por isso quando sugeri à Laura a hipótese de criar um grupo secreto no facebook, como “local de encontro”, ela adorou a ideia. Adorou a ideia, e mudou tudo.

Com muita simpatia e imensa garra a Laura trouxe o que nos faltava. Regras!

Como impor regras a algo que se faz como hobbie, e não é remunerado? Só a Laura conseguiu. Ela exigia, ela queria feito, e não o fazer resultava quase num “raspanete de mãe”, que ninguém queria levar. E desenganem-se ela exigia de toda a gente, mas fazia-o com simpatia, com humor, a fomentar o trabalho de grupo. Fazia-o de uma forma que não era uma exigência, mas tinha de ser feito e ninguém conseguia dizer – não.

Subitamente todos nos tornamos mais interessados, mais participativos, e todos ganhamos o “bichinho” de fazer mais, de fazer melhor. A Laura tornou o “deve” ser feito em “tem” de ser feito. E não vou negar, quando ela ficou menos disponível, o +opinião ficou um pouco perdido. Hoje em dia toda a gente continua a guardar um imenso carinho à Laura, ela ainda faz parte do nosso grupo, do +opinião.

Havia sempre colunistas a entrar e sair, algo que é inevitável. Seja simplesmente porque se cansam, seja porque têm propostas para participar noutros projectos, ou até iniciar o seu projecto a solo. E neste entra e sai a Laura é directamente responsável pela entrada no +opinião da Aida Fernandes, da Joana Camacho, e do João Nogueira. Entrava ainda a nossa dupla de humoristas residentes: Gil Oliveira e Ricardo Espada.

Sendo o João Nogueira considerado um fenómeno de seguidores no +opinião, e porque eu acredito que o maior valor de um homem está na honestidade, eu devo confessar, como já o fiz pessoalmente com o João, que foi a Laura que me obrigou (e digo literalmente) a trazer o João Nogueira para o +opinião.

Amigo traz amigo

Uma das coisas alteradas nesta altura foi o timming das publicações. Foi elaborado um calendário semanal que ia também às horas a que são publicadas as crónicas, timming que a Laura me exigia que fosse cumprido, da mesma forma que exigia aos colunistas que a crónica tivesse pronta.

O +opinião continuava a adicionar colunistas, mas muitas vezes, ou porque não correspondiam ao que esperávamos, ou simplesmente porque desapareciam, havia muitas entradas e saídas relâmpago. Tivemos que criar algumas regras (que ainda hoje) são aplicadas, como por exemplo o período de experiência, enquanto procuramos e aceitamos colunistas. Mas o que normalmente eram apostas ganhas, eram os colunistas que vinham por intermédio de outros colunistas. E o campeão, ou o “caça talentos +opinião” (como gostamos de brincar em modo privado), é o Bruno Neves. O Bruno Neves trouxe para o +opinião: Viriato Queiroga, João Campos, João Morais do Carmo.

O dia que quase nos fecha, é o dia que mais nos une

Algures em Maio de 2013, o +opinião passa pela sua maior provação até ao momento. Subitamente uma crónica que atinge directamente um organismo publico, torna-se viral. Mais tarde soubemos que essa crónica começou a circular internamente, por mail, dentro dessa organização. Nada mais podiam fazer do que comentar. E como comentaram. Comentadores que se intitulavam: Director de; Presidente de. Vinham indignados comentar a crónica. Mas nada mais podiam fazer. O +opinião fechava-se em copas, os comentários eram moderados, e sempre que ofendiam directamente o colunista em questão, ou usavam linguagem imprópria, eram apagados, como está previsto na nossa política de moderação. Pelo menos dois emails foram enviados para “A administração do +opinião”, que pediam para remover a crónica. Educadamente recusamos, e oferecemos a oportunidade de contraporem numa crónica própria a publicar no +opinião. Não tinham interesse. O importante era calar, não argumentar…

Eram momentos de muita afluência ao +opinião. E nas semanas que se seguem as estatísticas mostram que o autor dessa crónica está a ser seguido. Infelizmente deu um passo em falso. O mesmo colunista poucas semanas depois publica uma crónica sobre um assunto totalmente diferente. Fá-lo de uma forma bruta, talvez mesmo pouco correcta, mas dá a sua opinião. A Laura, na altura em plenas funções de editora chefe, antes da crónica ser publicada avisa-me, e inclusive nega-se a assinar como editora essa crónica.

Eu li, reli, e decidi hastear a bandeira da liberdade… Em menos de 24 horas o +opinião fica conhecido pelos piores motivos. O +opinião é acusado de xenofobia, perseguição, e “incitação à violência” (esta nunca cheguei a perceber). Numa manhã de sábado chovem emails a protestar contra essa crónica, e alguém indicou à Google que o +opinião tinha conteúdo impróprio.

Eu admito que havia um fundo de razão na crónica mencionada. Não temos que ofender as pessoas visadas para mostrar a nossa opinião, mas por outro lado havia muitas coisas estranhas na denuncia. A primeira de todas era “irradiação do colunista”, a segunda “apagar de imediato todos os conteúdos do colunista”. Pedidos ou ordens que só me faziam crer que a verdadeira preocupação estava relacionada com uma critica válida a um organismo publico, e não quanto à crónica mencionada. Por isso fiquei reticente em cumprir o pedido.

O que nos obriga a aceder a estes pedidos? Simples, o Google. Muita gente chega ao +opinião através do Google, pessoas que nunca aqui vieram, chegam cá por uma pesquisa através dos motores de busca, sendo que o Google é responsável por 62% do nosso tráfego. Se o Google deixasse de indexar o +opinião, praticamente deixávamos de existir. Tínhamos a questão da liberdade, contra a continuação, e era uma decisão que não poderia passar por mim, já que os colunistas são quem mantém o +opinião vivo.
Recorremos a uma votação secreta interna, e todos os colunistas do +opinião de forma anónima votaram que cumpríssemos o que era pedido ou aceitássemos as consequências. A maioria decidiu acatar o que era pedido, mas ao fazê-lo eu decidi negociar. A crónica mencionada foi apagada como pedido. Tentei negociar a saída do colunista, mas foi impossível, “havia o risco de algo do género ser publicado novamente”, mas não admiti apagar os conteúdos antigos (que para mim foi sempre o objectivo), e advoguei que se até à data sobre os restantes conteúdos não tinha havido qualquer denuncia, não representavam qualquer risco. E foi aceite, a vitória foi deixar a crónica que chateou muita gente no sítio onde ela está.

Tenho ainda de acrescentar a grande atitude do colunista envolvido, e ele próprio achou melhor sair para não prejudicar o +opinião.

Este momento uniu-nos, fez-nos crescer muito, e quase em tom de aviso, arrisco-me a dizer que nos dias de hoje numa situação semelhante, já não somos “tão anjinhos”, e estamos preparados para pelo menos advogar muito mais a nossa causa.

Para a próxima semana encerro este ciclo de crónicas, onde vou “abrir” as portas do nosso grupo secreto, contar alguns momentos privados, e falar dos nossos colunistas.

Quero agradecer a todos os que têm lido estas crónicas, nunca pensei que algo tão privado sobre a história de um blog pudesse ter tantas leituras e divulgação. Estou realmente a escrever estes textos de uma forma intimista, para os meus amigos, que são os leitores fieis.

Obrigado por serem +opinião!