O pai de todos os debates

JORNALISTA – Bem-vindos ao debate que antecede as eleições do próximo domingo. Connosco em estúdio, os líderes dos Partidos principais concorrentes …

PASSOS COELHO – Desculpe, falta o Dr. Paulo Portas.

JERÓNIMO DE SOUSA (IRÓNICO) – Está atrasado?

CATARINA MARTINS (IRÓNICA) – Se calhar, esqueceram-se de avisá-lo.

ANTÓNIO COSTA (A SORRIR) – Pode não ter podido vir.

PASSOS COELHO – Não teria podido só se estivesse no PS. Era preciso que tivessem convocado um congresso extraordinário com o objetivo de destituí-lo, como fizeram os seus apoiantes em relação ao antigo líder António José Seguro. O povo português não tem a memória curta e ainda não se esqueceu.

imagesDJWUHWKF

ANTÓNIO COSTA – Ainda anda a falar disso, senhor Primeiro-ministro?! Já aconteceu há mais de um ano.

images8YQY2IR9

PASSOS COELHO – E daí? Os primeiros cortes nos apoios sociais que decretei foram há mais tempo, pelas minhas contas quatro anos e os senhores da oposição ainda não se calaram a esse respeito.

JORNALISTA – Por favor, senhores, não queiram monopolizar o debate. Temos de dar voz também aos outros candidatos presentes.

PASSOS COELHO – Por mim tudo bem, pelo menos não vai ser para fazer eco das palavras do Dr. António Costa. É que mesmo dentro do PS já são cada vez mais os que dizem uma coisa diferente do seu líder, quanto mais nos outros Partidos.

imagesFXEVRQML

CATARINA MARTINS – Senhor Primeiro-ministro, não ouviu o que disse a senhora jornalista? Onde está a sua doutrina democrática? Importa-se de ouvir o que os outros têm para dizer?

images[9]

PASSOS COELHO – Não me importa nada que falem, senhora deputada, só me importo é se quiserem falar tanto tempo como eu.

JERÓNIMO DE SOUSA – O senhor Primeiro-ministro foge da verdade. Ao querer trazer o Dr. Paulo Portas para este debate, queria transformá-lo numa festa do Pontal. Era só o que faltava!

images6RYGZ3BF

PASSOS COELHO – Engana-se, faltavam também algumas centenas de apoiantes a gritarem o meu nome. Quando cheguei, formou-se logo uma manifestação espontânea de populares que, ao invés, começaram a vaiar e a criticar as medidas mais recentes. De resto, eu só queria que ele hoje estivesse presente, porque entendo que a maior parte dessas críticas lhe era dirigida.

images0BNAAJU0

JORNALISTA – Senhor Primeiro-ministro, a par dos cortes nos apoios sociais que referiu, a sobretaxa em sede de IRS foi uma das medidas que criou mais impopulares. Se for reeleito, vai mantê-la?

PASSOS COELHO – Só enquanto a maioria dos portugueses continuar a achar que é preferível, nem que seja pagar do seu bolso, para não voltar a ter o PS no Governo.

JORNALISTA – Deputado Jerónimo de Sousa, é um desses portugueses conformados?

JERÓNIMO DE SOUSA – Claro que não! Entre os líderes do PS e do PSD, não gostaria de ver nenhum a sair vencedor. O lugar de Primeiro-ministro deveria ser eleito um operário fabril ou da construção civil.

images8SJT0UGM

CATARINA MARTINS – E no lugar desse trabalhador devia ser colocado um deles para ver se aprendia a valorizar o trabalho de esforço e ainda por cima mal pago.

JORNALISTA – O Dr. António Costa faz-me sinal, deseja dizer alguma coisa?

ANTÓNIO COSTA – Apenas que não me importaria de ser eu, desde que para o meu lugar entrasse o Dr. Passos Coelho. Só para ver se, antes de voltar a criticar-me, se punha no meu lugar e percebia o trabalhão que tive para chegar à liderança. Fique ele sabendo que na véspera do congresso que me elegeu, a maioria dos congressistas era favorável ao Dr. António José Seguro. Tive de suar as estopinhas para reverter a situação e conseguir convencê-los a quase todos a votar em mim.

imagesCWWU85MP

JORNALISTA – Deputada Catarina Martins, é a primeira vez que o Bloco concorre a eleições com esta nova liderança. Que expetativas guarda?

CATARINA MARTINS – A de que nos próximos quatro anos esteja sentado connosco o Dr. Paulo Portas. É sinal de que os dois Partidos não concorrem em coligação e assim é mais fácil derrotá-los e às políticas de direita.

images7I7IE7W2

JORNALISTA – Dr. António Costa, quer-nos dizer como vai compensar a perda de receitas com a descida da TSU para as empresas?

ANTÓNIO COSTA – Vou cortar o mesmo montante na despesa.

JORNALISTA – Vai reduzir os apoios sociais, como fez o atual Governo de Passos Coelho?

ANTÓNIO COSTA – Não, vou cortar nas despesas de propaganda. Hei-de governar tão bem nos próximos quatro anos que para tornar a derrotar a coligação de direita nas próximas eleições, não vou precisar de gastar nem metade da verba atual em cartazes comigo sorridente nas fotografias, outdoors e publicidade na rádio e na televisão. Sim, porque ao contrário do que muita gente afirma, o programa de Governação do PS não é u m saco de palavras.

imagesX4Y8W4IG

JERÓNIMO DE SOUSA – Acho aquilo ininteligível e não é por ter sido escrito nos preceitos do novo Acordo Ortográfico. Como explica que os programas de Governo assentem os seus pressupostos nas medidas de austeridade?

CATARINA MARTINS – Concordo inteiramente e que falem de tudo menos do que interessa ao país.

imagesB3EN5703

JERÓNIMO DE SOUSA – Concordo consigo. Os sacrifícios são exigidos sempre aos mesmos, isto é, aos assalariados e aos reformados. Mas se forem verdadeiras as estatísticas, a Direita vai levar uma abada.

imagesIHQ3QP6J

CATARINA MARTINS – É verdade. Estamos de acordo. Não suspeitava que concordávamos em tantos pontos. Desconfio de que uma candidatura conjunta dos nossos dois Partidos tinha tudo para dar certo.

imagesCMSW2YFG

JERÓNIMO DE SOUSA – Eu também, e que talvez só nos desentendêssemos quando, por sermos uma coligação, tivéssemos de escolher qual dos dois é podia estar presente esta noite no debate.

imagesMYSOY70I

JORNALISTA – Não mudando de tema, Dr. António Costa, afinal o que diferencia o seu programa de Governo do da coligação no poder?

JERÓNIMO DE SOUSA – Posso responder? O não ter sido feito pelo Dr. Paulo Portas, se bem que em muitos pontos o programa do PS vai ao encontro das ideias dele, não vá o Dr. António Costa ter necessidade de se coligar com o CDS/PP no caso de querer governar com alguma estabilidade, sem ter obtido a maioria absoluta que tanto apregoa.

ANTÓNIO COSTA – É totalmente falso! Nós propomo-nos criar, não duzentos e sete mil novos postos de trabalho, como foi anunciado previamente, mas duzentos e seis mil.

imagesYKSPTJLC

PASSOS COELHO – Só?! Criámos o dobro de mão-de-obra qualificada ao longo desta legislatura.

ANTÓNIO COSTA – Jovens que infelizmente tiveram de emigrar para terem melhores condições de vida e poderem aplicar os conhecimentos que adquiriram. Partiram muito insatisfeitos consigo. Segundo as estatísticas, mais de meio-milhão que, se pudessem votar, dariam ao PS uma vitória tranquila com maioria absoluta.

imagesX4Y8W4IG

JORNALISTA – Que tem a dizer, senhor Primeiro-ministro?

PASSOS COELHO – Que mesmo assim provavelmente quem ganharia era eu. Bastava que, em vez de ficarem no PS, esses votos fossem distribuídos pelos comunistas e bloquistas que, às vezes na Assembleia da República, são quem faz uma mais acérrima oposição ao meu Partido. Nessas ocasiões eles é que são os líderes visíveis da oposição. Mas para as pessoas melhor compreenderem o que significaria voltar a ter o PS a governar, criámos um simulador.

imagesVVDZQ06S

JORNALISTA – Já ouvimos falar, mas como funciona?

PASSOS COELHO – Funciona através de uma equação, em que os fatores são o retrocesso económico, o endividamento e a teia da corrupção. O resultado final é desastroso!

JORNALISTA – Senhoras e senhores, vamos para intervalo meditar em tudo o que escutámos. É o primeiro de quatro, e não é por estar na presença de políticos que eu prometo que seremos breves.

PASSOS COELHO – Não entendi a piada. Normalmente os intervalos neste canal a esta hora são longuíssimos. É por achar que costumamos prometer o que não podemos cumprir?

JORNALISTA – Não. É porque, quando se retiram depois de perderem umas eleições, insistem em voltar ao fim de algum tempo. Em minha opinião, é quando pensam que as pessoas já esqueceram todas as borradas que andaram a fazer.

imagesXPXVTUHY