A vida antes e depois de um filho autista
1- desapegar-se em grande parte do materialismo;
2- fazer muito com pouco: pouco tempo, poucos recursos, muitas ideias;
3- tornar-se expert em neurologia, psicologia, fonoaudiologia, educação e direito em tempo recorde;
4- adquirir uma capacidade incrível de observação e leitura corporal completa;
5- reduzir a ansiedade (anular, na verdade);
6- reconhecer os problemas alheios como mais próximos;
7- aumentar o nível de criticidade em relação à sociedade;
8- selecionar rigidamente as pessoas de seu convívio;
9- descobrir a maldade onde você já podia imaginar e a bondade no mais inesperado cantinho;
10- perceber que o amor de mãe é incondicional, de mãe de autista é insuportável e insuperável;
11- adquirir acuidade excessiva;
12- aguçar todos os sentidos para usá-los de forma inesgotável;
13- conviver com a autenticidade e a pureza o tempo todo;
14- estar livre de ser enganado para sempre;
15- lidar com a vitória e o sucesso todos os dias;
16- encontrar amigos verdadeiros a distâncias que parecem mentira;
17- dormir 3 horas por dia e achar suficiente;
18- e valorizar segundo a segundo de vida transcorrido
in unknown
Pessoalmente, concordo com quase todos os itens, à exceção do 5 (ainda continuo a ser alguém muito ansiosa e a ter que enfrentar e saber lidar com esses meus níveis de ansiedade), 15 (não há vitórias nem sucessos todos os dias, a menos que consideremos que ver passar mais um dia no calendário seja uma vitória, mas isso é com autistas e pessoas “normais”), 17 (não é suficiente!!! É o que se consegue aguentar!).
Mas, grosso modo, é assim mesmo. Valorizamos o mínimo, aquilo que aos olhos dos outros é banal e corriqueiro; vivemos intensamente – tudo é intenso, desde birras a mimos; aprendemos muito e em pouco tempo; nem sempre somos compreendidas mas temos a certeza de que pelos nossos filhos vale tudo e faz-se tudo.
Crónica de Mara Tomé
T2 para 4
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