A coelhinha Rosie

“Estou, Ricardo, olha… estou a ligar-te porque sei que todos aí em casa ficaram tristes com o facto de o hamster ter falecido, por isso, vou oferecer-vos uma coelhinha anã…”

Foi assim que se principiou uma nova aventura cá por casa. O primeiro instinto foi não aceitar a oferta da coelhinha anã, mas como a minha filha de 5 anos tem o superpoder da hipnotização, eis que dei por mim a aceitar a oferta depois de ser alvo de uns olhos ao estilo de “Gato das Botas” por parte da minha filha. Passados uns dias, depois de adquirida a gaiola e tudo o que era necessário para o bem-estar de uma coelhinha, eis que a nova inquilina chega, por fim, a casa. O nome já estava predefinido pela minha filha — iria chamar-se Rosie.

Meio atordoado com a ideia de ser dono de uma coelhinha anã, desatei a pesquisar por essas internetes afora, como eram as rotinas e necessidades e, até, algumas dificuldades em ter uma coelha como animal de estimação. Nada me pareceu muito assustador. Bastava dar-lhe muito feno, água e encher a tijela com ração a cada 24 horas.

“Simples”, pensei.

Não deveria deixar a pobre coitada presa na gaiola o dia inteiro, porque se trata de animais mentalmente muito sensíveis e, então, optei por dar imensa liberdade nos primeiros dias cá por casa. Para ela nos conhecer, para nós a conhecermos e para a minha filha interagir mais com ela, para que encontrasse na coelha uma espécie de companhia, visto que ela já nos impôs (atenção, atento que a pirralha tem apenas 5 anos e já tem a mania que gere a família…) a aquisição de um animal de estimação ou então um bebé, porque ninguém brinca com ela — tendo em conta que o pai brinca com ela sempre que pode, parece que isso nunca é, de facto, suficiente na vida de uma criança.

Sinto-me na condição de afirmar que a ideia de dar liberdade à Rosie (entenda-se, a coelhinha anã), foi um erro de principiante muito grave. Porque, a Rosie, apesar do seu aspecto doce, fofinho e amigável, é uma espécie de diabo à solta cá por casa. Mas, claro, é um ser fofinho e amigável e, com a certeza, estarei a exagerar. Não se trata de um urso ou de um pitbull capaz de arruinar aquilo que é a decoração de interiores de uma casa. Porque é apenas uma simples e dócil coelhinha…

Uma simples coelhinha anã…

Dócil…

Querida…

Fofinha…

…que suja tudo o que pode. Que faz cocó e chichi em cima de tapetes e sofás e, por mais incrível que possa parecer, até em cima de quem a alimenta todos os dias para que a doce criaturinha não passe fome. Corre por toda a casa como se estivesse a fugir de uma raposa. Rói tudo o que lhe surge à frente. Aprecia muito ramos da árvore de Natal — mas prefere ramos feitos de plástico. Diz que dá mais pica. Adora esconder-se dentro do roupeiro. Adora esconder-se debaixo de cómodas, enquanto tenta roer a madeira do fundo das mesmas. Aprecia muitíssimo roer pés de cadeiras indefesas e come como se o mundo fosse terminar amanhã. Está sempre faminta. Finge adorar-nos, especialmente quando estamos a comer alguma coisa. E é muito curiosa com aquilo que, por vezes, parece estar espalhado cá por casa, e que serve para dar energia a certos aparelhos electrónicos — acho que se chamam de fios ou cabos eléctricos.

E com uma coelhinha tão afável cá por casa, dou por mim baralhado no que diz respeito a que tipo de atitude devo ter para com ela. Talvez por isso, de vez em quando, dou por mim a pegar na Rosie, e a encostar-lhe o focinho à zona onde ela acabou de fazer chichi no sofá e dizer-lhe:

“Coelhinha má! Sua porca! Coelhinha má!”

O que fazer… sempre gostei mais de canídeos.