A Máfia das Calças Pelos Joelhos – Carla Vieira

Quando era miúda e andava no quinto ou sexto ano, lembro-me que a moda era usar calças à boca-de-sino: justas em cima e super largas em baixo. Quanto mais largas fossem, melhor, e melhor do que isso era quando as calças eram muito compridas e volta e meia rasgavam-se por nós andarmos sempre a calcá-las com as sapatilhas. É claro que esta não era uma moda inventada por nós, crianças estranhas com desejos de ser consideradas fixes. Essa moda em particular originou da época dos chamados “hippies”, ou seja, não era nada de novo e com certeza os nossos pais até se lembram de ter usado calças assim no tempo deles.

Como toda a gente sabe, a moda vai mudando de vez em quando. Quando um surto epidémico qualquer se manifesta em relação à roupa, todos nós assimilamos que estilo x é moda e ponto final. Por exemplo, agora é moda as raparigas usarem calças justas, as chamadas “skinny jeans”. Os rapazes no entanto (e juro não saber a teoria por detrás disto), volta e meia começaram a usar as calças rabo-ao-léu.

Quando fui à Queima este ano (“ei, rebeldia de rapariga, vai à queima e tudo”, pois é), quando saí do Queimódromo, todos os autocarros iam bastante cheios, portanto decidimos ir apanhar o Metro à laia de só querermos ir para casa sem cheiro a cerveja e vómito (não resultou). Lá nos separámos e duas de nós entramos numa carruagem cheia de ressacados, um que vomitou no chão, e duas almas que não descolavam as respectivas línguas da garganta um do outro.

Isto tudo à parte, de repente aparece por ali um Zé da Horta que dava por dois e decidiu ir de pé para azar meu e da outra rapariga. Não bastava já ter barriga de cerveja naquela idade, também estava usar as malfadadas calças à rabo-ao-léu e pois claro, estava ali o rego do traseiro bem presente e chamativo. Escuso de dizer que não foi uma viagem apelativa, e entre ver partes daquele homem e a gosma no chão, eu preferi ir a viagem toda virada para o escarro composto pelo rapaz sentado ao meu lado.

Vou explicar então, para os senhores que por aí andam: nem todos vocês, rapazes, estudaram a ciência das calças rabo-ao-léu, mas eu sou simpática e vou esclarecer.

Para quem quiser usar estas calças, os únicos tons de boxer aceites pela comunidade são azuis-escuros ou pretos. Qualquer outra cor e arriscam-se a serem chamados de prostitutas masculinas. A média aceitável de boxer que se pode ver é três dedos; mais do que isso, puxem as calças para cima porque só a vossa namorada é que devia poder ver o que para aí vai.

Deixem-me já adiantar e dizer que os senhores mais fortes devem evitar estas calças porque, por favor reparem, não é bonito. Usem calças normais, ninguém vos vai julgar por isso, até porque a piada toda está nas t-shirts masculinas taparem a parte dos boxers que fica à vista, criando portanto um véu mistificador que só levanta quando os rapazes se agacham. Eu sei, é bastante irónico.

Alguns de vocês, e eu vejo muito isto, puxam as calças tanto para baixo e são tão mal ajeitados, que o mecanismo que arranjaram é arquear as pernas quando andam. Eu sei que os jogadores de futebol ficam com as pernas um bocado arqueadas, mas é um bruto de um preço a pagar por uma moda um bocado retardada. Além de que, se se esquecerem de arquear as pernas, lá vão as calças pelos joelhos abaixo e aí é que é uma rebaldaria.

Nunca se esqueçam no entanto, de um aspecto bastante crucial: mostrem o rabo o quanto quiserem (não levem isto à letra, pelo amor da santa), mas as raparigas geralmente não são nada atraídas por essa vestimenta. Há uma razão para as tatuagens no fundo das costas que as raparigas fazem terem ganho o nome de “tramp stamp”. Não é muito diferente para vocês. E os únicos animais que mostram o rabo para esses princípios são os gorilas. Isto diz muita coisa.

Eu, pessoalmente, gosto da maneira como as calças assentam normalmente nos rapazes. Fica bonito e eu associo a uma boa imagem corporal e pessoal. Não posso falar por todas as raparigas, claro, mas cá para mim, acho que concordam comigo. Fica aqui o apelo a que puxem as calças para cima e deixem a nudez no quarto. Parecendo que não, nós também não andamos por aí a mostrar os peitos até aos mamilos. Não ficaria nada bem.

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente