À medida dos nossos sentidos (2) – O que dói? – Patrícia Marques

A humanidade dói como um dedo dói. E este distanciamento entre a dor do homem e a dor de uma parte do corpo, ocorre-me de modo igual. Podem alguns perguntar, mas a humanidade é bem mais soberana; são os homens, essa irmandade que rege e nos traz a alma à esperança; são os homens que cospem o desterro do ódio no mundo e afiguram as maravilhosas condições do sobreviver; são os homens que curvando-se sobre condições mundanas, liberam o pensamento crítico para a vida e para o viver. Um dedo é só um dedo. Parte do corpo humano que dói; mas dói com o espelho da alma, ainda que a dor não se admita. A dor erradica assim que se cura; não falo da própria dor, não; falo sim de um dedo subjugado a algum verbo que se cruza com o doer. A dor contamina livremente e na intensidade que é possivel, tanto o dedo como a humanidade. Talvez as duas não se passem ao mesmo tempo; ou talvez sim. O dedo dói de acordo com a dor da Humanidade, ou à sensação da humanidade sozinha.
Mas eu gostaria que a Humanidade doesse mais do que o dedo. Eu sinto que a dor sinaliza alguma falta, algo que transcende o homem nas suas hipóteses corporais, mas nunca espirituais. A Humanidade traz de mim o porvir. Nessa dor, também sinto a intenção de um dedo doer; vejamos o choro da angústia de um à semelhança do choro do outro. Humanidade, é homem a reconhecer os valores que a vida lhe foi dando a conhecer e a questionar, um dedo que dói, por exemplo. É flamejo reconciliado entre sensação de sofrimento e a dor local; ou os sinais demolhados em restos de palavras que se inteiram da vida dorida, e assente na Humanidade do homem com dor.
Crónica de Patrícia Marques
Um lugar ao Sol