A Segurança das Estradas – Rafael Coelho

A política nos últimos tempos já nos cheira um bocado mal, por isso, vou iniciar hoje, com continuação nas próximas semanas, uma série de artigos, nos quais iremos debater o civismo, a segurança e a sustentabilidade, principalmente no ramo automóvel.

Todos nós com certeza que já nos deparámos nas ruas das nossas cidades ou nas estadas deste país com erros de condução completamente, como direi, absurdos, perigosos e bastante demonstradores do caráter, educação e civilidade a níveis muito abaixo do que deveria ser expectável.

Parece-me muitas vezes que o ensino de condução que se ministra hoje nas escolas de condução – como em muitas outras escolas, principalmente universidades e politécnicos – tem por objectivo principal a passagem no exame em vez do ensinamento correcto e devido das boas práticas na condução. Muita dessa responsabilidade, poderá advir do facto de os exames de código se basearem exclusivamente em regras e sinais de trânsito, quando os erros crassos praticados nas estradas têm mais a ver com regras de conduta e de respeito pelo outro que também circula, quer seja a pé, quer seja de veículo, nas ruas e estradas.

Por exemplo, os maiores problemas das nossas estradas e os que provocam mais acidentes e os mais graves têm a ver com o quê?

– Excesso de velocidade;

– Excesso de álcool no sangue;

– Ultrapassagens mais calculadas;

– Desrespeito pela prioridade dos peões das passadeiras;

– Falta de cuidado dos peões que atravessam a rua ou a estrada onde lhe dá mais jeito e não procuram a passadeira mais próxima;

– Não cumprimento de regras básicas;

– Ignorância de sinais;

Todas estas e muito mais situações têm simplesmente a ver com a falta de consciência e civismo. Mas muitas outras, têm também a ver com a ignorância ou com o fácil esquecimento de essas regras existem.

Muitas pessoas nem sequer sabem avaliar as seguintes situações:

– Onde fica a sua direita (para dar prioridade);

– Como circular numa rotunda;

– Num cruzamento com semáforos amarelo intermitente, se não existir outra sinalização, funciona a regra da direita;

– Nas estradas, ruas e parques de estacionamento, existe muitas vezes o triângulo pintado no pavimento (via sem prioridade), que tem o mesmo valor de um triângulo de sinal vertical;

– O semáforo amarelo é para abrandar e não para a acelerar;

– Os autocarros têm prioridade na saída das suas paragens de passageiros;

– Os veículos pesados devem manter ou reduzir a velocidade, para facultar ultrapassagem em maior segurança a veículos mais rápidos;

Numa rotunda, deve adotar-se a faixa mais à direita quando pretende sair da mesma e as faixas interiores se pretender sair da mesma nas últimas saídas;

– Condutores que estacionam nas áreas de paragens de autocarros, em cima de passadeiras para peões, em cima de passeios, bloqueando-os completamente, em segunda fila, ocupando a faixa de rodagem normal;

– Pessoas que param de repente na via para cumprimentar ou acenar a alguém que avistaram ou até que apitam, independentemente na hora e do local onde se encontram;

– Condutores a avisarem outros por meio de sinais luminosos da presença das autoridades ou de radares de velocidade;

– Quantos condutores sabem que todos os veículos têm piscas e estes não são decorativos, existem para serem utilizados no intuito de informarmos os restantes circulantes acerca das nossas intenções de mudança de direção ou de faixa, de ultrapassagem, num cruzamento ou entroncamento, etc.;

– As crianças têm que circular nos bancos traseiros, usar sempre o cinto de segurança e usar cadeiras ou bancos até determinada idade ou peso; isto, para enunciar apenas algumas mais situações que observamos que traduzem erros mais usuais.

Depois, continuamos a assistir a um número considerável de pessoas a falar ao telefone, a enviar ou a ler mensagens ou a comer enquanto conduzem, para não falar em pessoas que lêm o jornal, consultam a sua agenda ou computador ou até se barbeiam ou maquilham enquanto conduzem.

Vou dar alguns exemplos de casos que aconteceram comigo.

Há dias, circulando eu numa faixa que dava acesso ao caminho que pretendia seguir – a faixa do meio – mas tendo essa via três faixas, surge um veículo atrás de mim pela faixa da direita, que ocupa a faixa onde eu seguia, colocando-se à minha frente e sem pisca. Um outro condutor, ultrapassando pela da faixa da esquerda, decide ocupar também a faixa onde eu seguia, colocando-se imediatamente à frente do outro condutor que me tinha ultrapassado pela direita. Este último, ao verificar que o terceiro condutor tinha feito aquela asneira, reclamou com ele esbracejando, sem se ter dado conta que ele próprio tinha feito manobra idêntica (pior, porque me ultrapassou pela direita).

Mais escandalizado fico, quando constato que são muitas vezes profissionais da condução como motoristas, taxistas, trabalhadores do ramo, os maiores prevaricadores.

Por mais que as leis sejam apertadas, que as coimas e multas sejam pesadas, que exista fiscalização pelas autoridades, se as pessoas não se consciencializarem de uma vez que ter um veículo nas mãos é como ter uma arma, capaz de matar devido a um pequeno descuido, a uma desatenção, a uma falta de informação ou até a uma ação voluntária no cometimento de um erro que poderia ser evitado, vamos continuar a ser um dos países com maior grau de sinistralidade, de mortos e feridos graves da Europa.

Também neste aspeto, há que alterar mentalidades e possivelmente também métodos de formação de novos condutores e ainda fomentar ações de sensibilização para condutores experientes.

Crónica de Rafael Coelho
A voz ao Centro