Aquela certa idade, em que já nada se muda. – Teresa Isabel Silva

A cada dia que passa, eu acredito cada vez mais que vivemos num país que mais deve ser um planeta de muito, muito, muito longe. Somos marcianos, alienados na nossa própria sociedade.
Quer dizer, recentemente ao experimentar mais uma vez a vida de uma trabalhadora de telemarkting, deparei-me com uma série brutal de velhinhos do outro lado da linha que me respondia em puro pânico “que os filhos não o deixavam falar ao telefone”.

Dito isto, os seniores, desligavam o telefone como se eu tivesse uma espécie de lepra transmissível via linha de telefone, ou então via GSM, porque tudo dependia do operador de telefone do senhor ou senhora tinham.
Visto bem, eu pergunto-me que mal é que estamos a fazer aos nossos país e avós!? Proibir os senhores de se aproximarem do telefone?! Proibirem os pobres idosos de estabelecer contactos?! Quer dizer uma coisa é dizer que não tratam dos assuntos e que são os filhos os responsáveis pelo telefone e pela televisão, mas dizerem que estão “PROIBIDOS”?!

Imagino a quantidade de idosos que existem espalhado pelo nosso país, fechados a sete trancas em casas, com electrodomésticos que nem sabem como funcionam e claro, depois de um dia pacato, eis que a geringonça toca estridentemente. Eles olham para o telefone, como se o objecto estivesse possuído pelo demónio, e com muito medo lá levantam o auscultador para se justificarem e desligarem de seguida na esperança que o toque passe deixando-os livres para irem ver o Fernando Mendes na televisão.

Claro que com uma vida destas, eles não vivem, vão vivendo, resignados a esta vida, imposta pelos filhos, amigos e vizinhos, onde a partir dos 70 a vida é toda igual, e nem sequer se compra um fogão novo, porque não vale a pena… Afinal de contas assim fica tudo antigo a funcionar em casa.

Em determinadas situações derivadas do telemarkting lá ocorrem os erros de comunicação. E por erros de comunicação, entendem-se as conversas com mais de três minutos, em que conseguimos apresentar o serviço de telefone e televisão. Neste pacote a internet é automáticamente excluída, porque segundo os seniores já estão muito velhos para ter computador.

Esses erros acabam sempre por representar uma poupança significativa para os senhores que se recusam a entender que estamos numa Era de consumos e campanhas e que o telefone já não que ter assinatura.
E por falar em telefone? Porque é que eles se recusam a eliminar as suas vidas o velho telefone de disco?! Quer dizer, além de pouco prático, os números são pequenos. E vocês perguntam-se: Se eles vão poupar no serviço, se ainda vão receber um telefone sem fios e com um visor onde surgem números garrafais, e se tem total assistência para as troca, porque raio é que eles não mudam?

A resposta é sempre a mesma. Podem mudar as palavras, mas a ideia é a mesma todos os dias: Não mudam, porque naquela idade a única mudança que vão fazer é para debaixo da terra.
Isto é doloroso, macabro, e foi preciso ver a ironia de tudo isto, para escrever esta crónica. Para alertar que muita coisa não está bem com idosos de Portugal.

Crónica de Teresa Isabel Silva
Crónicas Minhas