As portas do inferno – Bruno Neves

Mas por acaso existe tema mais primaveril que o inferno? Pois, eu também achei que não, daí ter escolhido este tema para esta semana. Eu bem sei que é um assunto entusiasmante mas têm que se acalmar, senão não tenho condições anímicas para continuar. Na realidade não sei bem o que a expressão “condições anímicas” quer dizer, mas achei que ficava bem nesta narrativa. O quê? Humor político? Aonde? Se o virem avisem, porque é a única forma de eu conseguir prestar atenção à política nacional é tendo a palavra “humor” antes.

Passemos então ao que nos trouxe aqui esta semana. Quem já utilizou a expressão “portas do inferno” que atire a primeira pedra….oh, isso não se faz…se vocês soubessem o trabalho que dá a colocar essa calçada já não a estragavam de certeza! Mas tenho a informar-vos que as portas do inferno existem mesmo. E não, não são em Vilar Formoso à entrada da fronteira e não dizem “Bem-vindo a Portugal”. São no Turquemenistão. Eu sei que parece uma piada, mas não é, acreditem em mim.

Para vos contar esta história temos que viajar até Darvaza, uma pequena cidade localizada no meio do deserto de Karakum, no Turquemenistão. Temos que viajar mas isto é como os jantares de aniversário modernos: cada um paga o seu. Ah pois é, mas estamos em crise. Se a troika sabe que ainda há portugueses com condições anímicas para viajar para além de Vilar Formoso é capaz torcer o nariz. E como é capaz de sobrar para o nosso lado é melhor viajarmos só metaforicamente. É pena porque seria uma viajem bem interessante. Fica para quando sairmos da crise, lá para…2050, pode ser? Pronto, fica já combinado, marquem na vossa agenda senão esquecem-se.

Mas como eu ia a dizer, bem perto desta localidade algo arde há mais de quatro décadas. Eu sei que seria muito bonito e poético dizer que é o amor de um casal apaixonado, mas digo-vos já que não é. Tudo começou quando uma equipa de geólogos fazia escavações na referida região em busca de gás. Até que em algum momento, ao perfurarem o solo descobriram uma enorme caverna subterrânea! A caverna era tão grande que acabou por engolir todo o equipamento dos geólogos (felizmente não se registaram feridos ou mortos neste incidente).

Impossibilitados de descer, devido à incrível profundidade, e ao facto da caverna estar completamente cheia de gás, alguém teve uma ideia que inexplicavelmente na altura pareceu acertada: incendiar a caverna. O objectivo era evitar que gases tóxicos saíssem da caverna, mas eles mal imaginavam que aquele fogo jamais se apagaria. Gosto de acreditar que no momento em que eles perceberam que o fogo não se ia apagar tão rapidamente quanto isso algum dos outros geólogos gritou algo do género: “É bem! Agora quero ver como vais descalçar esta bota! Se alguém perguntar, eu digo que não sou teu amigo, ouviste?”

Quanto ao fogo, se por um lado alguns dizem que as chamas vão durar mais 250 anos outros afirmam que a caverna vai arder para sempre. E ninguém sabe a resposta para este autêntico mistério.

Entretanto em 2010 o Presidente do Turquemenistão (de seu nome Kurbanguly Berdymukhamedov e não, não estou a brincar) afirmou que ia fechar a caverna o mais depressa possível. Contudo, tal ainda não aconteceu. Vamos ficar à espera dos próximos episódios…

Antes das despedidas uma última piada: serei o único a achar que os padeiros desta região podiam fazer negócio à conta disto e usar o slogan: “O pão que o Diabo amassou” ? Talvez tenha sido o único então…

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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