Avé part-time cheio de pouca graça – Maria João Costa

É tudo pela metade. Andamos com metade da vontade, com metade do entusiasmo, e se ainda conseguirmos ter metade do salário na conta já é motivo para deixar escapar um sorriso … nem que seja pela metade.

Talvez a solução seja trabalhar pela metade; talvez o melhor seja dedicarmo-nos ao part-time por inteiro.

Trabalhar com toda a vontade e entusiasmo que um part-time exige. E se esse part-time for em casa, no conforto do nosso lar? “Avé part times cheios de graça!”. Mas a graça acaba depressa, mesmo que os part-times fosse dois, e que o salário deixasse um sorriso por inteiro.


Para aqueles que se identificam com o “forever alone” e gostam, seria o emprego perfeito, mas para quem tem incontinência verbal e uma necessidade de ver pessoas, a coisa complica-se. Trabalhar seis horas sem um “O que é que estás a fazer? Pára de fazer de conta que trabalhas!”, ou “Vamos tomar cafezinho daqui a cinco minutos para esticar as pernas?”. Sim, é um part-time, logo, não haverá motivo para esticar as pernas, mas há sempre necessidade de aliviar as articulações de tanto teclar. Necessidade de conviver.

Em casa, há sempre a possibilidade de colocar os pais por turnos, ou convidar as amigas para estudar no nosso local de trabalho, mas não é a mesma coisa. Falta alguém que nos compreenda, alguém que, como nós, vive os cinco minutos do café como se fosse o último grão de açúcar do pacote.

Os part-times nunca vão deixar de nos deixar pela metade … seja ela qual for.

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!