Boo! – Carla Vieira

Em primeiro lugar, tenho de confessar: sou uma pessoa muito céptica. Não há nada fora do comum que me possam expor que eu não insista ter uma explicação perfeitamente normal e legítima para tal fenómeno.

Não sei se terá a ver com o facto de ser completa e puramente ateísta, mas a verdade é que sigo os caminhos da ciência e pouco ligo às coisas ditas paranormais. Fantasmas, espíritos, demónios, são todos facetas da moeda de quem acredita em deus, e eu simplesmente não tenho paciência para isso. Note-se que tolero e respeito perfeitamente quem acredita nestas coisas. Toda a gente sabe de si.

O meu maior problema no que toca a estas coisas é no entanto as explicações “racionais” que as pessoas que acreditam no paranormal arranjam para acreditar. Ou é porque deus existe e portanto temos os anjos e os demónios que nos usam para travar uma luta qualquer (olá Supernatural!) ou é porque cada um tem um anjo da guarda, ou é porque os demónios gostam de brincar connosco… Sim, isto passa-me um bocado ao lado porque não consigo conceber como é que algo incorpóreo consegue fazer tantos barulhos e mexer em coisas. Mas, outra vez, isto já sou eu a debitar opiniões.

Bem, eu passei um bocadinho de tempo a fazer “pesquisa” para esta crónica na forma do fórum PortugalParanormal. Porque não gosto de falar de assuntos sem os compreender pelo menos um bocadinho, fui então ler certos tópicos que me chamaram a atenção. Primeiro, tenho a dizer, não sei que tipo de pessoas andam por lá mas é toda a gente educada ao ponto de passarem por lorpas. Desculpem-me o termo mas li páginas e páginas de uma certa discussão que se fosse eu no meio dela já tinha partido para os estalos metafóricos. São pessoas religiosas e com fé, notando-se pelo insistente tema de rezarem antes de irem dormir ou dizerem a pessoas assustadas para o fazerem. Têm, infelizmente, a noção errada do que é o satanismo LaVeyano e acham que por ter “satanismo” no nome é obrigatoriamente uma adoração dos demónios. Isto é obviamente tão longe da verdade como um cão de um gato, mas são outros assuntos.

Nota-se só por ler um bocadinho de cada tópico que quem acredita, acredita mesmo e falam como se soubessem factualmente como lidar com o que quer que seja que o tópico necessite. Eu sendo eu sou aquela pessoa que duvida de tudo o que leio nas respostas até porque não vai mais longe do que ir a médiums, rezar e fazer defumações. Ainda assim, acho interessante de vez em quando das espreitadelas porque quem fala por gosto faz-se ouvir.


O fenómeno paranormal mais interessante (e parvo) que eu já ouvi falar é o tabuleiro ouija, que nós Portuguesinhos conhecemos como o jogo do copo. Quem nunca jogou a este jogo? A primeira vez que o joguei devia ter menos de dez anos e joguei com o meu primo mais velho na cozinha da casa da minha avó. Ele sendo espertinho tentou-me assustar desligando a luz e pondo um figo seco no copo a fazer de conta que era um espírito.

Geralmente, aqui em Portugal, a tradição manda que façamos o nosso “tabuleiro” usando pedaços de papel com letras e números e um copo vazio a fazer de ponteiro. Existem tabuleiros a sério, mas cá não se usam muito, que eu saiba. Bom, a minha primeira vez foi também a última vez a jogar. No entanto, uns amigos meus decidiram jogar numa festa de anos. As meninas decidiram não jogar porque tiveram o seu receio, os homens prepararam o tabuleiro e lá foram para outra divisão porque não podiam jogar comigo à beira. Pelos vistos estas coisas não funcionam à beira de pessoas cépticas. Hm, pergunto-me porquê.

Por muito medo que as pessoas tenham deste objecto, eu sinceramente acho uma palhaçada. Isto das cenas paranormais não surtirem efeito na presença de cépticos, ateus e coisas assim é prova viva disso. As “bruxas” também não gostam que os clientes sejam acompanhados por cépticos e a explicação é óbvia. Quem não acredita não tem disposição para engolir sem algumas dúvidas e a mais leve mostra de lógica irrita as senhoras que são pagas para fazerem poções de mau-olhado. Sim sim, elas inventam que interfere com a recepção dos espíritos… Honestamente, por que raio é que um espírito iria fazer beicinho porque alguém não acredita nele? Me parece que tenham mais que fazer do que se preocuparem com a fé de cada um.

Para quem acredita, tenho é só uma coisa a dizer: estas pessoas são susceptíveis à mais mínima coisa, por isso liguem aí o botão do cepticismo para vossa protecção. Há muita chanfradice a tentar ganhar dinheiro à vossa custa.

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente