CAN: A Taça da emoção

Começou no passado dia 17 de Janeiro, a única razão que nos faz desesperar menos por um Verão sem futebol, ou como quem diz, a Taça das Nações Africanas, a CAN. Teremos assim, até dia 8 de Fevereiro, a competição do futebol sem regras, do futebol sem tácticas, do futebol no seu estado puro, gerido e guiado pelas emoções.

A Taça da emoção. É desta forma que opto por chamar à competição que, de 2 em 2 anos, opõe as melhores seleções africanas. A CAN é uma competição à parte de todas as outras. É na CAN que se vêem reviravoltas fantásticas, entradas duras mas que acabam por não ser nada de mais, frangos monumentais, danças esquisitas, jogadas de crer e de esforço, a táctica da força em vez da força da táctica e, sobretudo, a alma presente em cada golo, cada passe, cada defesa, cada festejo. Quem vê a Taça das Nações Africanas sabe o que vai ver. Sabe que não verá um “tiki-taka” à la Guardiola, sabe que não verá um Catenaccio, sabe que não verá um jogo aborrecido certamente. Os adeptos da CAN são únicos e não perdem nem por nada a competição que nos faz a todos reviver os nosso tempos de futebol na rua, na escola, ou mesmo em casa, contra o armário. Aqueles tempos em que arte e o engenho são menores que a vontade, mas que a vontade se sobrepõe a tudo e nos leva a sentir mais do que nunca qualquer feito alcançado. É isto a CAN.

Analisemos agora os 4 grupos presentes na competição Africana de seleções:

Grupo A – No grupo A, como é obrigatório, deparamo-nos com a equipa da casa, a Guiné Equatorial, que, graças às confusões vindas de Marrocos e ao facto de terem sido desqualificados, passou a ser o organizador. Neste grupo, além do organizador, contamos com o Gabão, o Congo e o Burkina Faso.Há aqui alguns motivos de interesse, sobretudo para os portugueses, que poderão observar Jorge Costa, que se encontra a treinar o Gabão e Balboa, jogador do Estoril e bem conhecido do nosso campeonato, ao serviço da Guiné Equatorial. Costuma-se dizer que quem joga em casa é favorito, pois bem, neste caso não é assim. O Gabão afigura-se como o principal candidato a ganhar o grupo, tendo um equipa superior às restantes, bem como um futebol mais coeso e interligado entre sectores. O Burkina Faso poderá também ser uma surpresa, a seleção outrora orientada por Paulo Duarte, tem um plantel com alguma qualidade e poderá apurar-se ao lado do Gabão. Quanto ao Congo e a Guiné Equatorial, será uma surpresa se qualquer uma destas seleções se apurar, não deixando, evidentemente, de se valorizar o factor casa, que poderá mudar tudo isto. As figuras de proa deste grupo são Aubameyang, a figura maior do Gabão, Jonathan Pitroipa do Burkina Faso, Emilio Nsue da Guiné Equatorial e Thievy Bifouma do lado do Congo.

Grupo B – Encontra-se aqui o único representante dos PALOP, Cabo Verde. Quem olhar de relance para as equipas que compõem o Grupo B, certamente não ficará entusiasmado. Isto se não tiver a mínima informação. Pois bem, desenganem-se. Temos uma Tunísia, que é sempre das melhores equipas africanas e que este ano quer melhorar o desempenho do ano passado, a Zâmbia, que quer repetir o feito extraordinário de 2012 e voltar a reerguer a CAN, a República Democrática do Congo, que em 2013 esteve à porta do apuramento para a fase seguinte e Cabo Verde, uma seleção em constante evolução, treinada por Rui Águas, e que este ano tem como missão causar o choque no Continente Africano. Podemos esperar que o equilíbrio seja a palavra dominante e que a surpresa seja o prato do dia. Com a incerteza e a similaridade da qualidade vigente, poder-se-á esperar emoção até ao fim. A primeira jornada, que terminou com os dois jogos empatados, foi um bom exemplo disso mesmo. Neste grupo os jogadores dos quais se esperará mais serão, Mayuka da Zâmbia, Mbokani da República Democrática do Congo, Chikhaoui da Tunísia e Kucka, o maestro dos Tubarões Azuis.

Grupo C – A qualidade presente neste grupo, é em tudo superior à encontrada nos dois anteriores. Composto por Argélia, Gana, Senegal e África do Sul, o Grupo C promete, sobretudo, espetáculo, com um futebol mais pensado e trabalho que os outros dois anteriores e jogos emotivos que darão aos espectadores o que eles desejam, espetáculo. A Argélia vem demonstrado qualidade e é um dos principais candidatos, tendo uma equipa fabulosa à sua disposição, com nomes bem conhecidos dos portugueses, como Brahimi, Slimani ou mesmo Halliche. Fazem parte dos favoritos à conquista da CAN, e qualquer coisa menos do que as meias-finais, será desastroso. Contamos ainda com o Gana, que é sempre uma das melhores equipas africanas e que tem um futebol muito parecido com o Europeu, sendo a qualidade dos intervenientes essencial no seu sucesso, tanto a nível interno, em África, como a nível externo, nos mundiais. Quem sabe não esquece, é a máxima desta seleção. Depois, um pouco mais afastados dos primeiros dois, mas igualmente com ambições, encontramos a África do Sul e o Senegal. Os primeiros têm vindo a evoluir com o tempo e a potenciar alguns talentos africanos, querendo surpreender como em 2010, no Mundial em sua casa. Os segundos, estão afastados dos seus anos de ouro, mas nunca são um nome para se ter fora do baralho, sobretudo com as suas novas pérolas, que terão tudo para despontar nesta edição da CAN. Sobretudo Sadio Mané, um dos maiores diamantes dos últimos tempos do Senegal. A qualificação tenderá a cair para o Gana e a Argélia, mas tudo dependerá do seu começo e da forma como encararão os adversários, presunção a mais, será fatal. As vedetas do Grupo C são, Brahimi da Argélia, André Ayew do Gana, Sadio Mané do Senegal e Ngcongca da África do Sul.

Grupo D – Costuma-se dizer que se deve deixar o melhor para o fim, e assim ditou o sorteio dos grupos da CAN. O último grupo, o D, é constituído por dois dos maiores gigantes africanos, a Costa do Marfim e os Camarões. Os dois colossos do Continente Africano digladiar-se-ão pelo apuramento em conjunto com outras duas seleções que pensam também ter uma palavra a dizer, são elas a Guiné Conacri e o Mali. Será uma missão hercúlea, mas tanto a Guiné como o Mali querem mostrar ao público que não são favas contadas e que o apuramento, dado como certo por quase todos, da Costa do Marfim e dos Camarões, não será assim tão simples quanto isso. A Costa do Marfim que voltar a reerguer-se e afirmar-se como a maior potência do futebol africano, os Camarões, por sua vez, querem vingar-se pelo facto de há dois anos não terem sequer estado presentes na CAN, algo impensável tanto pela qualidade dos jogadores, como pela história do país. Jogadores como Bony, Yaya Touré, Choupo-Moting, Song, entre muitos outros, estarão logo em confronto na primeira fase, naquele que é um duelo entre dois favoritos e que, quiçá, poderá sair daqui o vencedor da edição de 2015 da Taça das Nações Africanas. Um duelo mesmo a não perder para quem gosta de bom futebol e de ver e rever jogadores de requinte mundial. As estrelas deste grupo são, Yaya Touré da Costa do Marfim, Samuel Eto’o dos Camarões, Ibrahima Traoré da Guiné Conacri e Seydou Keita do Mali.

Está apresentada assim a competição que desperta atenção de todos os amantes de futebol que sabem que quem vê a CAN, nunca sai defraudado, seja porque razão for. É a festa de um continente apaixonado pelo futebol, e que muitas vezes vê no desporto rei uma forma de se abstrair dos seus problemas, que, infelizmente, se vão multiplicando e alastrando ao longo do tempo. Dessa forma, teremos um continente parado durante 1 mês, desde o apito do arbitro e o primeiro pontapé de saída, até à festa final. Seja qual for o resultado, a festa da CAN não pára e, seja que ano for, contamos com a já mítica dança do eterno guarda-redes da República Democrática do Congo, Kidiaba, para alegrar a competição e o dia de cada um de nós. A Taça das emoções está aí, vai deixar a cultura táctica para observar a alegria do futebol? Faça isso, vai ver que não se arrependerá. Este ano, sou cabo-verdiano!