Chiqueza de Café e Férias Cá Dentro – Carla Vieira

Uma coisa que adoro no Grande Porto é o facto de ter uma beleza velha-e-nova, uma harmonia bonita entre os imponentes prédios desusados e as lojas recentes. Sempre que por lá passeio vem-me um sentimento de nostalgia, como se cada lufada de ar falasse da história desta magnífica cidade.

Um dos meus hábitos preferidos é andar meia perdida pelo Porto e encontrar cafés escondidos, como por exemplo, a Boulangerie de Paris e o Armazém do Caffè. Sim, eu sei que são temáticos e nada Portugueses; no entanto, a magia de os ir visitar reside aí mesmo.

Quem for a algum destes cafés pode certamente dizer que estão decorados com um estilo nada habitual nas ruas do Porto, a comida é única e o ambiente é sempre calmo e convida a conversas intelectuais. Se formos aos cafés ditos “normais”, somos (quase) sempre recebidos comum sorriso no rosto e a comida é boa e de alguma qualidade, dependendo do sítio que frequentarmos… Considero que existem alguns lugares em que não vale mesmo a pena entrar. Mas por agora, foco-me no positivo.

Quando vou, portanto, passear pelo Porto e entro num destes cafés (entre outros), porque são tão diferentes e interessantes, quase que convidam a ficar lá a tarde toda a beber um chá e a fofocar. São os sítios ideais para se experimentar qualquer coisa no menu que ainda não se tenha provado e para se ir estudar se o tempo o convidar. Os empregados são simpáticos, as sobremesas são espectaculares e não existe nenhum daquele ruído de fundo que tanta gente incluindo eu acha tão irritante. Sim, porque nós nortenhos quando falamos, falamos alto e bom som.

No entanto, por muito que adore ir a estes sítios cheios de chiqueza e intelectualidade, só gosto de lá ir porque quando saio porta fora sinto-me a entrar outra vez no Porto, como se esses pequenos nichos fossem umas férias temporárias do barulho tipicamente citadino e do stress que o acompanha.

Não há nada como passar algum tempo num cafezinho novo e depois sair para esta velha cidade e apreciar o ar e a vida que se cheira e se sente em todo o lado, nos prédios antiquados e nas ruas antigas, nos passeios apertados e nos jardins quase-esquecidos. É barulhenta sim, esta pequena grande cidade, mas é exactamente assim que eu gosto dela, e não me imaginaria a viver tão feliz em mais nenhum sítio.

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente