Conan Osíris – a moda que (não) veio para ficar

Ora bem, por onde hei-de começar esta crónica sem que ofenda ninguém? É que já percebi uma coisa fantástica e maravilhosa que tem acontecido na nossa sociedade nos últimos dois anos: temos de ter muito cuidado com aquilo que dizemos e com aquilo que escrevemos! Antes do 25 de Abril, quando o Salazar governava este país plantado à beira-mar, coitado daquele que abrisse a boca para dizer o que quer que fosse, as pessoas até tinham medo dos próprios pensamentos com receio que alguém os conseguisse ler, hoje, em 2019, numa sociedade que se gaba de ser tão livre, vivemos mais acorrentados do que nunca. Tentem fazer o seguinte exercício, não é difícil: fiquem uma hora nas redes sociais e leiam a quantidade de noticias, sobretudo más, e a quantidade de comentários, sobretudo maus, que advém dessas noticias, já o fizeram? A que conclusão chegaram? Estamos completamente fodidos, não é? Se fazes uma piada sobre mulheres és machista, se colocas um post sobre homossexuais és homofóbico, se mandas uma piada sobre pretos, és racista, se falas nos ciganos vem o Lelo dizer que és xenofóbico, se compras nos chineses és contra o comércio local, se usas sacos de plástico estás a prejudicar os mares, se fumas estás a poluir o ambiente, se não usas produtos biodegradáveis estás a borrifar-te para o planeta, se não és voluntário num abrigo qualquer de gatinhos és uma merda de pessoa, se fazes um post que ser mãe é lixado, das duas uma, ou és má mãe ou és má mãe, se comes carne estás a matar animais iguais a ti, se comes peixe estás a contribuir para os animais em vias de extinção…foda-se, a sério? Mas que raio..não posso fazer nada nem dizer nada nem comer nada, posso ao menos usar a casa-de-banho?

É precisamente neste contexto social que surge Conan Osiris, devo dizer leitores que quando vi o tipo pela primeira vez disse logo: este tipo vai ganhar o Festival da Canção! Não leitores, eu não sou bruxa ( embora às vezes pareça ), rendi-me às evidências simplesmente. O meu querido Osíris sabe tão bem quanto eu que, se fosse há uns anos atrás ele não tinha hipóteses de vencer, há uns anos atrás a música, o conteúdo musical, a qualidade vocal do artista e o talento eram itens de exigência, hoje não, hoje qualquer um pode colocar cobre na cara ( que podes vender na sucata a dois euros o quilo ), vestir um fato à pomba, pôr um periquito a dançar ao teu lado, uma dança que nem Einstein saberia decifrar, cantar uma música sobre telemóveis e não sei quem que está no céu, mas que não se percebe nada do que canta e voilà, está no papo o Festival. Não precisa de saber cantar, nem de saber estar e muito menos de saber falar, vai representar Portugal no maior evento musical mundial e só sabe dizer: tipo, ia, fixe, bué, ah sem esquecer o mano e o tá-se. E porque é que ganhou? Porque pertence a uma minoria, está na moda apoiar as minorias, ajudar os fracos e oprimidos, apoiar aqueles a quem nunca ninguém deu uma oportunidade na vida, ajudar os desfavorecidos, apoiar os nefastos, os humildes, os feios, aqueles que até Deus se esqueceu, amém.

É moda, diria eu, mas não se esqueçam que a moda é efémera e mutável, assim como a nossa opinião. Finalizo com a letra de António Variações, artista que tanto foi falado nestes dois últimos meses, a quem Conan Osíris foi comparado e que a esta hora deve estar lá no céu a rir-se às gargalhadas à custa de nós todos: Quando a cabeça não tem juízo, e tu não sabes mais do que é preciso, o corpo é que paga…