Crónicas Minhas – Longe da Vista, Longe do Coração

Já lá diz o ditado, que o que os olhos não vêem, o coração não sente.

Já alguém tentou explicar isto a uma criança? Uma criança confrontada com esta expressão olharia para nós os adultos incrédula e diria logo sem pensar duas vezes que o coração não vê. Uma criança consegue facilmente simplificar esta equação que para os adultos é tão complexa.

No pior dos cenários poderíamos tentar explicar a uma criança o motivo pelo qual os pais se vão divorciar. A mãe explicar que o pai arranjou uma namorada nova e que por isso os vai deixar. Na cabeça da criança este cenário é irreal porque ela nunca viu a namorada do pai com ele, e como a criança apenas vê a mãe como namorada do pai, a existência de uma terceira pessoa é praticamente irreal. Ou seja, para a criança a mãe era sempre será a namorado do pai, até que os olhitos da criança vejam o contrário.

Por outro lado, para os adultos, o facto de verem a pessoa que amam abraçada a outrém é motivo para que a mente crie imediatamente os piores cenários e por causa disso, o coração vai sentir uma dor associada a esse pensamento. Perante este cenário, uma criança responderia prontamente que aquele abraço seria apenas a demonstração de carinho entre dois amigos… E o mais irónico é que por vezes a criança tem razão.

Um exemplo de que longe da vista está longe do coração é a capacidade de esquecer determinado assunto quando deixamos de lidar com ele.

Aliás, o ser humano na generalidade tem o hábito de “fechar os olhos” a tudo e mais alguma coisa, agora aproveito para questionar se este hábito serve para que o coração não veja certas coisas que de outro modo nunca iríamos aceitar? Por outro lado, a criança só sente aquilo que vê, e sente intensamente, dando valor ao sentimento e não fechando os olhos perante nada.

Colocando de parte as crianças e os adultos e o modo como eles vêem as coisas, temos que reparar que a expressão “longe da vista, longe do coração” tem uma carga negativa, aliás quase que nos diz que se não virmos não vai doer. Mas se assim fosse não seria de esperar que as pessoas invisuais tivessem uma vida melhor? Contudo, ninguém pensou nas coisas boas… Se elas estiverem longe da vista, o que é que vai ser feito do sentimento de felicidade que vai aconchegar o coração?

Ao revés da expressão pejorativa e de negação, porque é que não dizemos para as coisas boas que “perto da vista, perto do coração”? Pelo menos estaríamos a ter um pensamento positivo, pois o penamento positivo, apesar de não o vermos, estará bem perto do coração.

Crónica de Teresa Isabel Silva
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