Diário de uma Divorciada – A corrida

Tenho o prazer único de poder partilhar a história da minha amiga Telma, contada na terceira pessoa, textos repletos de sátira, textos reveladores de uma profunda tristeza e honestidade, mas são de facto textos que detalham a vida real e a fase de mudança que a Telma está a vivenciar. Ponderei muito antes de partilhar estas palavras com os leitores mas relembrei o poder transformador que as palavras detém, se o testemunho da Telma ajudar nem que seja uma mulher a sentir-se bem com as suas decisões e escolhas, então valeu a pena.

Diário de uma divorciada  – A corrida

A Telma foi correr, já estava mais que na hora de se sentir em forma. Ao contrário de Pipocas Doces e companhias que se tornaram mulheres ainda mais bonitas após o divórcio, nada contra, se há qualidade que a Telma admira nas mulheres é a capacidade extraordinária de no meio de tantas tarefas e responsabilidades, a mulher se cuidar, se produzir, se amar, se transformar. Nas primeiras semanas em que estava sozinha a alimentação de Telma era, resumidamente, uma fusão de batatas fritas, bolos e bolachas, madrugada fora, tudo o que fosse açúcar e gorduras que a pudessem compensar da miséria em que se sentia.

Os dias que passava longe dos filhos eram seguramente os piores, por muito entretenimento disponível que tivesse Telma só tinha vontade de enfiar a cabeça na almofada e chorar. Assistia filmes romanticamente lamechas e lamentava não viver uma história igual à dos filmes, praticava exercício físico um dia e ficava mais de uma semana sem vontade de repetir, não comunicava com ninguém, comia tudo o que cheirasse a desespero e no dia seguinte voltava a fazer tudo igual, mas Telma sabia que essa fase iria passar e passou.

Na primeira vez que Telma foi correr perto da sua nova residência foi no mínimo caricato. Telma estava a conhecer a zona e rapidamente percebeu que a zona é muito boa para correr e ainda melhor pelos desportistas que também correm por lá, Telma, cuja fome apertava a cada dia que passava, entreteve-se com o catálogo andante de homens enquanto as suas pernas faziam o trabalho pesado. Alto, demasiado alto, um ruivo, não gosto de ruivos, hum…demasiado musculado, este não, tem a mania, careca nem pensar, demasiado baixo, peludo não gosto, gordinho também não, seria uma despesa dois a comer, magrinho demais, esquisito a correr, feio, bonito demais para mim, novito, velhote, sua muito…por este andar o seu primeiro encontro iria ser no lar de terceira idade, oxalá que o seu futuro namorado ainda tenha alguns dentes.

Telma não gostou de nenhum dos tipos que viu passarem por si enquanto arfavam e suavam e, muito provavelmente, ela também não agradou a nenhum deles. O que Telma ainda não tinha mentalizado é que para agradar um homem ela tinha primeiramente de se agradar a si mesma! Parar de sabotar a sua auto-estima e se apaixonar por ela mesma, esse era o verdadeiro desafio que ela iria superar mais depressa do que julgava.

 

“Se nos amarmos realmente a nós próprios, tudo na nossa vida funciona”

Louise Hay

 

Próximo capítulo: “Ninguém tem nada a ver com isso”