Divina Insanidade – Viriato Queiroga

Insano.

É numa inócua noite de Setembro que a escrita que flui por entre as teclas de um qualquer portátil comprado nos saldos do Continente, que surge a ideia de refletir acerca de uma temática tão relevante, quanto idiótica, para a o dia-a-dia de cada um de nós: a loucura.

Deixemo-nos de metáforas, e outras figuras estilísticas que tais, que propaladas por entre estas linhas de trabalho, insistem em intrometer-se nas nossas conversas semanais, sem que o caríssimo leitor se sinta satisfeito com as mesmas, e eu, pobre, pobre colunista, tenha em mim o mais puro sentimento de génio incompreendido, em tudo similar ao Sean Bean (ou, num nível diferente mas estranhamente parecido, ao Vítor Gaspar), e as suas inúmeras e criativas formas de matar os personagens por si interpretados (ou, no caso do ex-ministro, um país, embora eu aguarde, incessantemente, que este senhor seja convidado para uma peça de Filipe la Féria, devido aos seus múltiplos talentos).

Ora, a insanidade é definida como sendo a perpetuação da realização de um mesmo ato, com resultados conhecidos, mas esperando… Alguma mudança. Assumindo que a maioria da população não padece de insanidade (apesar de as probabilidades de se ganhar ao jogar no Euromilhões continuarem a ditar que os portugueses, quer joguem, quer não, tem quase a mesma hipótese de acabarem o seu dia ricos), o que dizer do mundo que rodeia os seres humanos, e as nossas possibilidades em volta do habitat? Bem… Para se ser justo, é necessário olhar de ambas as perspetivas para as atitudes societárias que tem vindo a ser tomadas. Mostras de grande razoabilidade e maturidade, pontualmente, são demonstradas, todavia, toda a ação classificada como boa, de acordo com uma moralidade ocidentalizada, é contraposta pela sua Némesis. A loucura parece constar, em permanência, da existência humana, ao mesmo tempo que a nossa barbárie e desrespeito por direitos fundamentais domina os telejornais. Dia, após dia, após dia, após dia.

A consequência é, por demais, muito simples: a partir do momento em que a insanidade dos tempos é propalada, sem qualquer reserva, esta é perpetuada, através dos mecanismos de socialização humana.

Enquanto, a humanidade assiste, impávida, à televisão, enquanto uma qualquer estação reprograma toda uma nova moralidade: o interesse de outrem.

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