Algo me deixou confuso este sábado.
Acerca da entrevista dada por um dos “senhores” da chamada Troika, acerca do corte de salários, quer no público, quer no privado, a comunicação social perguntou ao primeiro-ministro se havia, da parte do Governo, intenção de baixar os salários no privado também. A resposta foi negativa. Que não era intenção do Governo lançar tal medida. E a jornalista insiste:
Jornalista: Mas o Governo já falou em moderação…
Primeiro-Ministro: Não foi o Governo. Fui eu.
Fiquei confuso. Ele, enquanto Primeiro-Ministro, não faz parte do Governo? Será que o nosso Primeiro tem problemas de identificação com o Executivo que dirige? O que irá acontecer daqui a 3 anos e alguns meses? Irá ele argumentar nas legislativas “Eu? Eu não fiz nada. Foi o Governo! A culpa é deles! Eu nem sabia!”.
Não foi só isso que me veio à memória, quando penso em Coelho e “dito pelo não dito”. Para além da crise que o PSD, quando era o PS que governava, dizia que não era sistémica (era só nacional, provocada pelo “evil” Eng Sócrates – e repito a palavra “só”) e agora já é sistémica, europeia (se não mesmo internacional), lembrei-me do Ministro da Economia.
Ele disse – e as gravações da sessão da comissão onde falava na AR confirmam – “o ano 2012 marca o fim da crise”. Agora estamos no campo da adivinhação? E nem a Maya arriscaria tal previsão, tendo em conta um tal “Orçamento de Estado 2012”.
Nem o mesmo acreditou no que disse, por isso apressou-se a desmentir o que ele mesmo tinha dito, à saída da sala. À saída corrigiu, afirmando que o que tinha dito era que 2012 marcava o inicio do fim da crise. Só não disse quanto tempo vai levar até encontrarmos o final. A restante “quadrilha” (perdoem-me o termo) do PSD apressou-se a ajudar o Ministro na correcção do que havia dito. Esta coisa de dizer que a crise acabou não vos faz lembrar algo? Ah pois, a celebre declaração de alguém do PS, Sócrates se não me engano, na AR, enquanto Governo, que fez com que toda a oposição praticamente agredisse o “homem”.
Este ministro da Economia é “bom” em gafes. Lembram-se de quando ele disse não entender porque os proprietários dos restaurantes se queixavam do aumento do IVA, pois com a recuperação do mesmo, para eles era igual? Então e o impacto do aumento do IVA não aumenta os preços, afastando clientes finais, Sr Ministro? Será normal um economista dizer estas gafes? Não vos lembra ninguém? Ah pois, o “Sr Gafes”, Manuel Pinho, Ministro da Economia do Governo PS.
Em suma, o Governo mudou de cor, mas parece mais do mesmo. Demasiada coincidência. Mas para pior.
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