Do caos algo fica

Acho que tenho jeito para escrever um romance ou melhor, tenho jeito para imaginar uma boa história, mas um romance é sempre grande demais. Por isso, os meus textos são sempre curtos e poucos aprofundados. Talvez por isso me desse melhor com curtas metragens, gosto muito de fotografia, de contar uma história com pormenores mas sem muitas palavras. Na verdade, cada texto meu é uma curta metragem, sem câmara, usando apenas o olhar para capturar as imagens e a imaginação para contar uma história, sempre curta e sempre muito fora da realidade, já que eu vivo muito fora dela e muito dentro do caos da minha mente. O caos é como um tornado que roda sobre si entre a realidade e a fantasia que vai juntando elementos que de outra forma não séria possível de juntar e assim começa a forma-se uma ideia, um texto que dificilmente terá um rótulo porque não se encaixa em nada a não ser uma forma de eu passar o tempo, que é fazer o que eu gosto, escrever e contar histórias. Poderia entrar naquele mundo solitário dos escritores, quase rituros espirituais por dois anos. Mas a minha vida já é tão solitária, que não me vou fechar num quarto um ano ou dois de isolamento, num quarto onde já levo uma vida fechado. Tenho espírito de escritor, mas não tenho coragem de o ser de verdade ou de tentar, o ser… já é difícil para mim está falta de tempo para o que ainda desejo fazer, não o vou gastar em mais solidão dentro da solidão. Eu até gosto desta minha solidão, acho é que não ia gostar da solidão que escrever um livro provoca. Já me chega a minha e ter tempo para gastar em coisas inúteis como ver um vídeo no YouTube, brincar com o meu telemóvel ou olhar a janela e ler livros, a solidão que outros passaram… há quem diga que escrever um livro é um acto de sofrimento, outros levam as coisas mais na felicidade. Eu sofro e não quero isso para mim, já tenho a minha dose de sofrimento. Apesar de isso tenho um projecto com três capítulos, que se chama “o coveiro” um conto insano, mistura religião e falta de moral, com terror. Está na minha gaveta virtual, mas o livro está todo na minha cabeça. Esse um dia pretendo acabar, apesar de anos sem lhe tocar, se tiver tempo vou acabar por o deixar em papel que pode provocar mentes mais fechadas. Não o faço por provocar, mas pelo direito a expressão e ao pensamento, ao acto de criar. Se acontecer, será o meu Adão e Eva, no sentido simbólico, da criação. Não me julgo Deus, longe de isso, não é a criação de um ser humano e sim de um livro, que pode mudar um ser humano ou não. Mas tudo isso se tiver tempo, porque tenho muita coisa importante para fazer como me deitar em cima da cama e respirar fundo, sentir lá fora o odor a terra molhada. É a vida que eu quero sentir, ter tempo para olhar os pormenores e sentir.

Não vou mentir de que gosto muito de escrever, dá-me uma espécie de prazer brincar aos Deuses e criar mundos, ou fragmentos deles, porque acho que nunca vou muito além disso… talvez juntando todos esses fragmentos façam parte de um mundo de caos, um livro sem uma lógica, tal como eu neste mundo, falta-me a lógica de existir, mas isso não se passa com todos? Existe algum sentido nisto de sermos o que somos? Quem nos fez assim, para onde vamos e aquém vamos ser úteis ou inúteis? Não consigo encontrar uma lógica a não ser aproveitar a vida, sendo útil ou inútil.

Deus no princípio com uma mão agarrou num pedaço de Primavera e esfregou nela uma semente, fez nascer uma flor, tinha posto nela a maior doçura e esperou que Adão olha-se para ela. Adão contínuo adormecido, seu olhar não estava ligado ao coração para sentir a beleza de uma flor. Então Deus pegou noutra mão em mais Primavera e vez milhões de flores, umas mais bela do que a outra e esperou que Adão olhasse para uma delas, mas Adão contínuo sem adormecido. Deus sem perder a paciência pegou num pedaço de vida e nele misturou um pedaço de flor e fez a mulher, chamou-lhe Eva, a mais bela das suas flores e esperou que o Adão olha-se, adormecido, um beijo de Eva nos seus lábios o acordou e viu toda a beleza da criação de Deus. Tinha assim Deus acabado de dar vida a Adão