Duplicidade do que nunca o foi – Viriato Queiroga

Questionar um qualquer recalcitrante (arrogante palavra para designar o “homem comum”) do que trata a “Saudade” é das tarefas mais elogiosas, ainda que complicadas, na cultura portuguesa. Porque a cultura domina os meandros cerebrais do que é imperceptível à sensibilidade desumana, rejeita a vontade geral (ou da maioria? Ah… Pernicioso Rousseau…) aceitando, e desossando, a particularidade desconjuntada. Observemos a política sentimental individual e percepcionemos o que é além-mar do jugo racionalista (em justaposição, totalmente rimática, ao romantismo), dificilmente incorporado… No que quer que o leitor (para não falar do pseudo intelectual do autor) pensarão.

A realidade… É sempre mais complexa, e simultaneamente mais simples do que o seu espectro mental. O que, por ironia racional, e antagonista emocional do famoso “keep it simple, stupid”, torna a simplicidade num crescente processo de simplificação, cuja complexidade depende do número de factores aos quais as pessoas conferem importância nas suas hierarquias de valores. Complexa realidade, essa, que intrinca os nervos da saudade, levando… À realidade seguinte:

Nostalgia. A evocação da viagem do ser. Do físico, do emocional e do imaterial. Do Mundo, do local, da pessoa, do sentimento. Do tudo e do nada. Da lágrima derramada pela amante, inexistente. Do suor escorrendo por entre as vénias da corcunda de esforço, após um dia de trabalho, entrando no descanso final do corpo (e da alma, acaso seja essa a sua fé…).

Raridade argumentativa acerca do que pouco rodeia o animal mais irracional de toda a panóplia de espécimenes que rodeiam a Crosta: sim, a referência (crítica?) é realizada ao ser humano. Leve a atitude, presunção bolsista, na sua mala do portátil. Racionando a contribuição humana ao progresso, e rejeitando o que o torna completo em si mesmo. Mas esta personagem comete o típico erro, economicamente falando, mirando a sua traseira. O vento leva as delicadas gotas salgadas, derramadas pelo oceano tenuemente suprimido pela seda.

A acção de caminhar, de correr, continua.

Mas a sustentação… A materialização do conceito de “ser Homo Sapiens Sapiens”… Nunca abandonou o local típico. A observação do imediato correu meio Mundo, entrando em conflito ciumento com o seu gémeo… Sendo a fusão rejeitada… Resta o conflito da personalidade humana. O eterno conflito nascido no Iluminismo.

Qual vencerá?

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