E se todos os nossos defeitos forem, afinal, virtudes?

Esta semana proponho que falemos de defeitos e virtudes. Em maior ou menor quantidade todos os temos, isso é certo. Agora, e se eu lhe disser que é tudo uma questão de…ponto de vista? Sim, leu bem, de ponto de vista. Poucos são os assuntos em que a opinião de tudo e todos é consensual. Ou seja, cada um tem o seu ponto de vista, as suas convicções e a sua experiência de vida e é partindo dessa base que formulará as suas opiniões. Logo, algo que para mim é verdade para o caro leitor pode ser mentira. Ou vice-versa, depende do exemplo em causa.  O mesmo se aplica aos defeitos e virtudes: eu posso achar uma certa pessoa convencida e o caro leitor não. E quem diz convencida diz uma série de outras coisas como deve imaginar. E é sobre tudo isto que se debruça o “Desnecessariamente Complicado” desta semana.

Como seres humanos que somos a perfeição é algo que não nos assiste, logo os defeitos fazem parte do nosso quotidiano. Claro que há casos e casos! E se certas pessoas são simpáticas e afáveis, outras há que nem sequer um “olá” merecem da nossa parte de tão insuportáveis que são!

Eu, por exemplo, tenho algo que para além de ser uma mania acho que também pode ser considerado um defeito: não consigo estar quieto quando estou a falar ao telemóvel. Parece algo normal, mas é um vício bastante irritante para os que me rodeiam. Sempre que estou a fazer uma chamada é certinho que começo a andar, tal e qual um atleta de alta competição! Passados alguns minutos quem está próximo de mim está a ralhar comigo e a pedir para que me sente (“antes que gaste o chão”) enquanto eu já tenho dores nas pernas de tanto andar. Claro que nessa altura me sento….durante dois minutos! Depois lá me volto a levantar e a andar como antes!

Agora, qual é a parte boa desta mania/defeito? Conjugo a necessidade de falar ao telemóvel com o belo do exercício físico! É que parecendo que não, andar ainda ajuda a queimar umas quantas calorias! Outra vantagem é que obriga-me a exercitar também o cérebro dado que falar enquanto se anda (ainda que em círculos) obriga a maior destreza mental.

Querem outro exemplo? Acumulo o defeito acima mencionado com mais outros tantos, incluindo o de ser teimoso. E sim, este é praticamente um “não-defeito”. Porquê? Porque pode significar que sou alguém que não desiste facilmente e que consigo manter o foco e a concentração no que realmente desejo/ambiciono. Quando se fala com alguém que é teimoso qualquer conversa pode tornar-se num debate bastante acesso. O que também pode ser uma vantagem dado que vai “obrigar” a outra pessoa a melhorar os argumentos se quiser realmente “vencer” o debate.

E por fim proponho que analisemos o facto de eu não só falar muito como por vezes falar demasiado alto. Caso não tenham reparado na minha biografia (disponível ao lado desta mesma crónica para os mais distraídos) eu sou locutor de rádio, numa rádio local: a Rádio Voz de Alenquer. E só por isso o “falar muito” já se torna uma vantagem e não um defeito. Até porque é bem mais problemático um locutor que fale a menos do que um que fale um pouco demais. Quanto ao tom a que projecto a minha voz digamos que se por um lado sofrem os microfones (e todos aqueles que ouvem sem qualquer problema auditivo), por outro todos aqueles que devido à idade (ou a qualquer outra dificuldade) têm algum problema ouvem-me de forma estranhamente nítida. Como diria o Jaime Pacheco: “é uma faca de dois legumes”.

Portanto como podem ver é tudo uma questão de perspectiva e uma generosa dose de boa vontade. Da próxima vez que lhe apontarem algum defeito tente rapidamente dar a volta à situação defendendo-se como poder tornando assim o defeito….em virtude.

Quanto a mim….sim, sou teimoso. E falo muito e bastante alto. E não consigo parar quieto enquanto falo ao telemóvel. E tenho também mais mil e um defeitos, como todo o ser humano. Mas também tenho virtudes. E gosto de acreditar que essas são bem mais que os defeitos. E existe pelo menos uma pessoa no mundo que concorda comigo e que me dá o privilégio de a amar. Sabe que nome se dá a isto caro leitor? Amor! E o importante é vivê-lo de forma intensa, sincera e verdadeira nunca esquecendo os nossos valores e princípios. O resto? O resto…é paisagem!

Boa semana.
Boas leituras.