Ecologia ou Economia? – Rafael Coelho

Há ainda muitas pessoas a pensar que as opções ecológicas (amigas do ambiente) são caras. É importante por isso, em tempos de crise e de cortes nos nossos orçamentos familiares e empresariais, assumirmos que a maior parte das opções ecológicas trazem benefícios também para as poupanças necessárias.

Ecologia e economia rimam, assim tanto no início da palavra, como no fim da mesma, mas também rimam na atitude e nas escolhas que fazemos.

Quantos de nós muitas vezes criticamos determinados aumentos nos custos de determinados produtos ou serviços, sem pensarmos se de facto eles seriam tão caros se a generalidade das pessoas adotassem posturas divergentes daquelas que tomam?

Há umas semanas falei das economias em gasto de energia, tanto em casa, como no como na utilização do veículo. Mas ainda haverá muito por dizer neste tema. Vou deixar aqui alguns exemplos, para reflexão e quiçá consiga também influenciar a sua maneira de pensar e a sua atitude perante o planeta, a sua sustentabilidade e o seu futuro.

Já reparou que ao comprar uma peça de roupa, nomeadamente com pele ou em pele, se optar por uma não natural, além de estar a poupar algum(ns) animal(ais) à natureza, está a contribuir para ajudar a indústria, a ciência e a criatividade?

Existem centenas de cemitérios de pneus usados no nosso país, que ainda se encontram em condições para venda e compra e ainda poderão servir para milhares de quilómetros. Hoje em dia, quase ninguém opta por usar pneus recauchutados, a não ser para veículos comerciais, camiões ou tratores. Muitos dos pneus, são reciclados, inclusiva para a fabricação de pavimentos para as estradas. Sabia porém que pode adquirir um pneu usado por 1/3 ou 1/4 do preço do seu valor em novo, possível de utilizar em cerca de 60 a 80% dos quilómetros que utilizaria com um pneu novo?

Apesar de já estar proibida (ou quase) a venda de lâmpadas incandescentes, estas ainda se encontram instaladas em cerca de 60% do parque habitacional português. O custo de aquisição de lâmpadas económicas é bastante mais elevado – dependendo das marcas, cerca de 3 a 5 vezes mais. Porém, em média, a vida de uma lâmpada incandescente, dura entre 4 a 6 meses, enquanto a vida média de uma lâmpada económica é de 24 a 48 meses (2 a 4 anos), ou seja, 6 a 10 vezes mais. Por outro lado, a utilização de uma lâmpada económica, com a mesma potência em Watt, reduz o consumo de energia em cerca de 20 a 40%. Conte quantas lâmpadas tem em casa e veja quanto pode poupar. Se ainda tiver muitas lâmpadas incandescentes e não quiser ou puder substituí-las todas no mesmo instante, opte por substituir primeiro aquelas que mais utiliza, para começar a poupar mais rapidamente. Há locais, principalmente comerciais, que estão já a substituir pela tecnologia LED, que permite poupanças de consumo de energia até 90%, porém os custos de aquisição são ainda um pouco elevados.

Já reparou que se existissem mais pessoas dedicadas à limpeza dos campos, matas e florestas, não existiriam tantos problemas relacionados com os habituais fogos florestais de Verão? Ao produto que é recolhido das matas: ramos, folhas, ervas, arbustos, árvores já mortas, etc., pode chamar-se de “BIOMASSA”. Esta biomassa, é uma potencial forma de energia ecológica, uma vez que pode ser canalizada para locais próprios onde pode ser transformada em material para arder em lareiras ou salamandras. Também pode ser transformada em acendalhas para usar no acendimento do lume. Mas também pode ser canalizada para centros de transformação da Biomassa em energia elétrica ou outra. Em Portugal, existe um plano de construção e alargamento da capacidade das centrais eléctricas de Biomassa, mas não está concluído e ficou “bloqueado” devido à crise. No entanto, há dinheiro para contratar 25 helicópteros durante 5 ou 6 meses, para combater os fogos. Será que se houvesse estímulo à criação de emprego nesta área, além de combater o desemprego, limpavam-se as matas e ainda se aproveitava a Biomassa para a produção de energia. Assim, como não existe esse incentivo, continuamos com as matas sujas, queimam-se milhares de hectares de floresta por ano, destruindo-se assim esse património valioso, polui-se a atmosfera e ainda se gastam milhões de hectolitros de água de barragens e outras reservas, gasta-se uma fortuna no combate aos fogos e ainda se gasta combustível e morrem por vezes pessoas – principalmente bombeiros – e outras ficam sem os seus bens.

Não descurando a hipótese de regressar ao tema, uma vez que é bastante pertinente, chegamos à conclusão que afinal a relação entre economia e ecologia é muito mais próxima do que à primeira vista pode parecer, por isso, se quer poupar ou reduzir o seu orçamento, faça uma análise aos seus hábitos e rotinas diárias e aí poderá encontrar um desconhecido filão por explorar.

Crónica de Rafael Coelho
A voz ao Centro