A porta por onde entramos pode não ser a mais importante, a porta por onde saímos é a que define quem somos. Mas haverá sempre uma primeira porta por abrir, e diferentes formas de o fazer.
“O bater punho”, bater com força, o experimentar várias chaves, errar e voltar a errar sem nunca desistir, deveria de ser a melhor forma de a destrancar, mas é cada vez mais difícil; e quando acontece, a probabilidade de se ter enganado na porta não é pequena. Talvez por isso se tenha criado uma outra forma de ultrapassar esse primeiro obstáculo, utilizando uma chave apenas.
Vivemos numa sociedade onde a cunha é utilizada sem preconceito, não é associada à corrupção (apesar de o ser), e chega a ser vista como muito favorável. Aliás, para os mais jovens, os familiares e amigos continuam a ser uma mais valia para entrarem no mundo do trabalho, e a corrupção passa a ser associada a uma boa acção ao estilo de Robin Hood.
Os mais orgulhosos dizem “não”, mas depois de verem tantas portas fechadas, acabam por ceder e por entrar pela porta dos fundos, como tantos outros. Hoje em dia, já ninguém tem credibilidade para apontar o dedo àquele que é amigo do chefe, porque também ele é o “pagamento” de um favor qualquer do homem que lhe paga o salário.
Mas é quando já se deu o primeiro passo que temos que mostrar que vale a pena fazermos parte daquela equipa, e fazer de tudo para sairmos pela porta principal, ou melhor, fazer de tudo para não sair. A forma como entramos dita o nosso desempenho, obriga-nos a ser melhores do que as expectativas que têm sobre nós. E se não fizermos por merecer, não vão ser as cunhas que nos vão garantir um horário das nove às cinco. Há que saber agradecer o “favor” com empenho e muitas horas extraordinárias.
Contudo, nunca é demais relembrar que falamos de corrupção, e que são tomadas muitas atitudes injustas, todos os dias. E não é só de justiça que falamos, é de uma cultura cívica que precisa de uma cunha para garantir a igualdade de oportunidades.
(Há sempre a hipótese de entrar pela janela, para o caso da porta estar fechada.)
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