Era uma vez no cinema: Jason Bourne

       Doze anos passaram desde a estreia de “The Bourne Identity”, o filme que trouxe ao mundo, pela primeira vez, Jason Bourne, umas das grandes personagens do cinema de acção do século XXI.

      Um agente secreto ligado a um programa especial dos Estados Unidos da América é encontrado à deriva no mar, sem memória. Agora, este dependerá apenas dele para conseguir todas as respostas sobre o seu passado.

      A premissa é bastante simples, certo? No entanto, a saga protagonizada por Matt Damon conseguiu fugir da mediocridade que atingiu o cinema de acção nos últimos anos. Embora o primeiro filme da autoria de Doug Liman seja bom, a saga aumentou a qualidade após a entrada de Paul Greengrass para o cargo de realizador. Aliás, os três filmes que antecederam este “Jason Bourne” aumentam gradualmente o nível, culminando num fantástico “The Bourne Ultimatum”. Nove anos após o último filme, ainda que pelo meio tenha estreado um derivado da franquia (o “The Bourne Legacy” protagonizado por Jeremy Renner), “Jason Bourne” marca o regresso do verdadeiro Bourne ao cinema.

       A trama de “Jason Bourne” passa-se alguns anos depois dos acontecimentos de “The Bourne Ultimatum”, onde Bourne volta a ser confrontado com informações acerca do seu passado. Algo que o faz voltar ao activo e estar de novo no radar da CIA.

       Mas qual é o grande trunfo do franchise “Bourne”? Claramente a sua intensidade aliada a um realismo que nos faz achar tão credível cada aventura de Jason Bourne. E quem melhor que Paul Greengrass para filmar um filme deste género? O ritmo alucinante imposto pelo realizador, com a tradicional movimentação rápida de câmera que o caracteriza, combinado com uma boa dose de suspense, fazem de Greengrass um dos melhores realizadores da actualidade no cinema de suspense/acção (como seria bom ver o realizador britânico à frente de um filme de James Bond!!!). “Jason Bourne” traz com ele todos os elementos que fizeram com que os outros três filmes fossem aclamados pela crítica: uma  trama inteligente e actual, cenas de acção superiormente filmadas e boas interpretações. É interessante como “Jason Bourne” se enquadra no panorama político actual, com a primeira parte do filme a decorrer durante uma manifestação em Atenas e o actual debate de Segurança vs Privacidade na base do enredo.

       Como já puderam ver, sou um grande apreciador desta dupla Matt Damon e Paul Greengrass, mas “Jason Bourne” também tem os seus pontos fracos, algo que o impede de chegar ao nível de pelo menos os outros dois filmes da franquia da autoria de Greengrass. Uma das falhas mais apontadas a “Jason Bourne” é a sua falta de ambição. Quando se decidiu trazer de volta uma trilogia aparentemente encerrada nove anos depois, esperava-se que fosse para dar um novo rumo à saga. No final de contas, “Jason Bourne” limita-se a copiar o enredo das obras anteriores. Não teria mais sentido trazer algo de novo? Algo como Bourne voltar a trabalhar para o governo dos EUA? Veremos se num próximo filme será dado esse passo em frente na franquia. “Jason Bourne” também sofre pelo seu fraco terceiro acto. Quando a acção se começa a desenrolar em Las Vegas, o realismo característico da saga é deixado um pouco do lado. Para além de escolhas dúbias de algumas personagens (foi só a mim que aquele plano todo da personagem de Tommy Lee Jones não fazia sentido nenhum?), ainda temos aquela perseguição pelas ruas de Las Vegas a fazer lembrar “Fast & Furious” (o que não é propriamente bom).

       Quando ao elenco o trabalho no global é de altíssimo nível. Embora só tenha 41 anos, Matt Damon já é quase um veterano tal não é a vasta cinematografia do actor, algo que faz com que interpretar Jason Bourne seja “peaners” para este óptimo actor. É verdade que Matt Damon é o claro protagonista em qualquer filme de Jason Bourne, mas a Heather Lee de Alicia Vikander é o grande destaque da obra. A recém-oscarizada é uma actriz com um potencial tremendo e a complexidade que oferece à sua personagem é incrível. Coloquem os olhos nesta jovem sueca, porque virão muitos mais prémios a caminho. Tommy Lee Jones e Vincent Cassel (embora este com uma personagem mal desenvolvida) estão em óptimo nível tal como não seria de esperar outra coisa destes dois actores.

       É verdade que “Jason Bourne” é pouco ambicioso e joga pelo seguro, mas é muito melhor que quase todos os outros filmes de acção que semanalmente chegam às salas de cinema. Não vimos cenas de acção de “corta a respiração” como as da franquia Jason Bourne regularmente e nem que seja por isso, mesmo que Greengrass copie a mesma fórmula nos próximos dez filmes da saga, eu sairei do cinema sempre satisfeito. Paul Greengrass no próximo 007, por favor!

7/10