Tu és Lisboa

Tu és Lisboa.
Imaginas quão igual a esta cidade,  tu és?  Enérgica, tal como tu: basta ter-se a confiança necessária, o rotineiro hábito no seu lado mais positivo e tu libertas toda a tua adrenalina, não paras, sem descanso não dás descanso a quem faz parte de ti, fazes pulsar o sangue nas veias com velocidade semelhante à que corta o vento nos subúrbios lisboetas, a vibração que transmites é tão hiperativa que facilmente se perde o controlo tal e qual uma noite académica no Bairro Alto. A nostalgia que se sente dentro de uma Carris ao observarem-se pequenas gotas de chuva intecetadas pelo branco e preto da calçada portuguesa é semelhante àquela que sentem todos os que, por meros acasos da vida, te deixaram escapar por entre os dedos e, guardando bons momentos, sentem falta que sejas uma constante do dia-a-dia. Quando o sol se põe nesta cidade e a lua sobe recortada por prédios antigos, fachadas de edifícios altos, com mil luzes brilhantes solta-se um grito melancólico que insiste em trazer recordações e vivências, abstraio-me de tudo, saio do meu próprio corpo e descolo-me de todos os pensamentos racionais, apenas observo vidas alheias e alheada da minha lembro-me demasiado de ti. Revejo-te em cada olhar que, esperançoso, mantém a fé que o dia seguinte seja simplesmente melhor; há sorrisos de estranhos que, sem motivo aparente, se constroem ao cruzar-se com o meu. Faz-te lembrar alguém? Como sorrias só de me ver sorrir… E agarras todos os que te visitam à tua existência, e sufocas aqueles que querem estar contigo, iludes com uma boa aparência, como cada boa paisagem que Lisboa nos oferece; se vista,  ao pormenor tens mil falhas e outros tantos defeitos, tantos são os escombros e as sombras que parecem invisíveis a cada esquina. Quando chegamos e caímos aqui, à beira rio, totalmente desprotegidos e olhamos à nossa volta, não sentimos que fazemos parte de algo tão abismal mas deixamo-nos ir, levitamos e somos impulsionados por uma multidão louca que sai do metro em hora de ponta; apresentas-te e, completamente inocentes nós deixamo-nos ir ao sabor da tua voz e imergimos no teu olhar louco e penetrante. E imploram para voltar, com medo de sair além Tejo, de nunca mais poderem regressar às sete colinas, de nunca mais poderem ver os teus sete sorrisos, conviver com as tuas sete facetas. E quanto mais se vê , mais se descobre, mais se sabe e se ouve dizer, mais vontade existe de conhecer do mais ínfimo beco à maior das avenidas, do mais ridículo mito urbano, à história que apadrinhou toda uma nação conquistadora , do mais íntimo medo à maior das alegrias , do teu mais ridículo gracejar à lenda da tua vida. Mas seguimos pela Vasco da Gama e de lágrima no olho, deixamos tudo isto para trás… Prometemos muito baixinho voltar a Lisboa e sermos felizes de novo. Mas não, não há qualquer certeza no regresso e vislumbras novos horizontes, reagindo aos poucos, aos poucos de cada vez, de lés a lés vemos fotografias, lembrando-nos o que vivemos na cidade menina e moça, a cidade mulher da nossa vida deixa espaço para outras. Tu assim o és mas eu? Eu sou Faro.