Eu quero o meu iPad de volta!

Olá, estimado leitor. Quero confessar-lhe uma coisa: eu estou deveras agastado com o que se está a passar na minha vida, e preciso de ajuda urgente. O drama por que estou a passar, tem-me esgotado todas as forças, como se tivesse enfrentado — numa luta mano-a-mano — o Parasita, o vilão de banda-desenhada que tem o poder de sugar toda a energia do seu adversário. Estou, literalmente, de rastos… Mas de tal maneira esgotado que, se entrasse numa corrida contra uma tartaruga, enquanto eu estava ainda a meio do percurso e ela já tinha cortado a meta duas vezes.

“Chiça, isso está mesmo mau, ó Ricardito. Então o que se passou, para estares assim tão esgotadito?”, pergunta o leitor, demonstrando de uma forma carinhosa que se preocupa com a minha mais estimada pessoa. (Vá, não faça essa cara… Ao menos faça de conta… Vá, entre lá no espírito desta crónica, se faz favor… Vá, que eu estou demasiado esgotado para entrar em discussões estapafúrdias… Está bom? Vá, eu ofereço-lhe uma moeda de 1€… em chocolate. Boa? Isso…)

Bom, visto que o leitor faz tanta questão em saber o porquê de eu estar tão esgotado (em troca de uma moeda de 1€, não é seu malandro?…), eu não o vou fazer esperar mais tempo, visto que, daqui, parece-me que o leitor está com a expressão facial de quem está quase a sofrer um ataque de ansiedade. Eu estou esgotado porque quero o meu iPad de volta! (Calma, não esteja já a puxar os cabelos em jeito de desespero por estar a desperdiçar tempo da sua vida a ler uma crónica onde o cronista se queixa de estar esgotado porque apenas quer o seu iPad de volta, que eu vou já explicar, pormenorizadamente, o que se passou… É já no parágrafo seguinte. Vamos até lá? Boa? Não? E se eu lhe der mais uma moeda de 1€ em chocolate? Ah, bom… Vamos lá então!)

(Primeiro vamos a duas informações que são relevantes para esta história: 1) eu tenho um iPad; 2) eu tenho um sobrinho de 6 anos.)

Bom, sempre que o meu sobrinho vem cá a casa, a primeira coisa que ele pede ao tio é o iPad. Não é um iPad de última geração; pelo contrário, é um iPad 2, que já está um pouco ultrapassado. Mas trata-se efectivamente de um iPad, e isso basta para que o meu sobrinho o queira ter, o mais rapidamente possível, em sua posse.

Tudo bem que eu não digo que não, pois o “puto” merece estar a jogar um pouco no meu iPad — só por ser meu sobrinho já tem esse direito —, mas o que podia muito bem ser apenas uma meia-hora ou uma hora de jogatana no iPad, torna-se num perfeito terror, ao não querer largar o raça do aparelho por nada deste mundo! E é aí que a confusão se dá início…

Da última vez que isto se sucedeu, eu optei por começar por pedir-lhe o iPad com jeitinho, pois eu sei que, como criança que já fui (e ainda sou, porra!), é extremamente difícil largar um aparelho que nos permita estar horas e horas a jogar o nosso jogo preferido, assim do nada… E ele não aceitou, obviamente. Comecei a ficar impaciente, e desatei a inventar doenças absurdas para o assustar.

“Rodrigo, sabes que ficar tanto tempo assim agarrado ao iPad, faz crescer pêlo em demasia no corpo todo?”, começo por dizer. Ao que ele me responde simplesmente: “Ah, boa! Assim posso ficar parecido ao Sonic Lobisomem!” Raios, esta não resultou.

“Ó Rodrigo, sabes que ficar tanto tempo agarrado ao iPad, ele acaba por se incendiar e queimar-te a cara toda. E depois ficas igual ao Freddy Krueger!” Ao que ele responde: “Oh, não sejas parvo, tio… Mas, quem é o Freddy Krueger?” Optei por não alongar mais o assunto “Freddy Krueger” porque ele apenas tem 6 anos, e não precisa de passar noites acordado com medo de adormecer…

“Ó puto! Larga já o iPad! Sabes que, se estiveres demasiado tempo agarrado ao iPad, acabas por te transformar no Noddy!” Pensei que o tinha arrumado com esta, mas ele responde: “Ah, boa! Sempre sonhei ter um chapéu com um guizo e um carro igual ao do Noddy!” Comecei a desesperar…

“Ei! Larga já isso! Tu não vês que o iPad já está a chorar de estar tanto tempo a trabalhar?!” Ele responde: “Tio… Tu não estás bem, pois não?.. O iPad não chora!! Ah, ah!” Bolas, esqueci-me que estava a falar com o meu sobrinho de 6 anos e não com o meu outro sobrinho de 2 anos…

Optei por usar um último argumento que me pareceu infalível! Ciente de que iria ser bem sucedido, enchi os pulmões de ar e disse: “Puto! Se não largas isso, daqui a 15 segundos ficas autista!” Ao que ele responde: “Hum… O que é autista?!”

Respirei fundo… e fiz única coisa que uma pessoa adulta pode fazer numa situação destas. Chamei a minha mãe, e fiz uma birra enorme, porque eu queria o meu iPad de volta e o meu sobrinho não mo devolvia…

O meu sobrinho, ao ver-me naquele desespero absurdo, dispara as únicas palavras de que eu nunca estaria à espera. Disse: “Tio, és mesmo uma criancinha birrenta!”

E continuou a jogar no iPad…

Até para a semana, malta catita…