Um abanão chamado Syriza

É oficial: Alexis Tsipras é o novo primeiro-ministro da Grécia. A partir deste momento a europa vai ter que lidar com políticas contra-cíclicas e menos austeras. Os mercados agitaram-se assim como o Banco Central Europeu (BCE), que não sabe bem o que esperar do governo recém-eleito. As primeiras semanas de governo do novo primeiro-ministro parecem ir de encontro com as suas promessas eleitorais e colocaram a Grécia, mais uma vez, no centro de todas as atenções. As relações entre Atenas e Berlim não estão fáceis e as crispações prosseguem de um lado e de outro.

É sobre este pano de fundo que apresento como meu objectivo dar a conhecer aos leitores um pouco do programa político do Syriza. Muito se fala sobre este partido mas poucos conhecem as soluções que propõe para retirar a economia grega da recessão. A opinião pública europeia encontra-se dividida. Por um lado, há aqueles que temem as consequências políticas e económicas radicais que Tsipras pretende pôr em prática e que de certa forma nos afectarão a todos, por outro, os partidos de esquerda anti-austeridade regozijaram-se com o resultado das eleições gregas e demonstraram apoio total ao novo governo. Afinal que podemos nós esperar do Syriza? Tentarei, ainda que muito brevemente, fazer um apanhado geral das propostas deste partido com o intuito de responder a esta mesma questão.

A eleição de um partido de esquerda radical na Grécia era, a meu ver, inevitável. Os líderes europeus (com especial destaque para a Chanceler alemã Angela Merkel) há muito que temiam este cenário. A política de austeridade levada a cabo pela Troika em território heleno pouco teve em conta as repercussões políticas de um país em bancarrota, com um povo agitado e com um elevado número de cidadãos a viver abaixo do limiar da pobreza. Resultado da crise internacional, a situação grega colocou à vista as debilidades das economias periféricas da União Europeia. Déficit público, desemprego, despedimentos na função pública e pobreza passaram a fazer parte do vocabulário, já de si complicado, dessa nação mediterrânea. Cerca de 67% da dívida grega pertence aos países europeus e ao BCE. Os juros já não podem descer mais (muito próximos de 0% no segundo resgate) e Bruxelas já relembrou que a dívida é para ser paga. Contudo, o grande desafio de Tsipras não será o pagamento da dívida (pois esse será um procedimento que levará longos anos para ser concretizado) mas sim a manutenção da Grécia na zona euro e a implementação das medidas prometidas ao seu eleitorado que divergem das políticas dos seus credores.

O voto no Syriza foi um voto de protesto. Com 36,34% dos votos e 149 lugares no parlamento (menos dois do que é necessário para ter maioria absoluta) o Syriza conquistou as eleições legislativas e iniciou uma coligação com o ANEL, o partido dos Gregos Independentes, que obtiveram 4,75% dos votos, conquistando assim mais 13 deputados e com eles um executivo de maioria absoluta. O que não deixa de ser curioso é o facto de um partido de esquerda radical como o Syriza se ter coligado com um de direita e de tipo populista. Na minha opinião, a explicação desta jogada política passa muito pelos sentimentos anti-troika partilhados por ambos os partidos, o que permitiu uma aliança destas duas esferas políticas opostas. Ideologias diferentes unidas sobre um único propósito, o de salvar a economia grega e romper com o memorando.

As ambições de Alexis Tsipras podem ser tidas em conta segundo dois níveis, o interno e o europeu. Começando pelo primeiro, as principais propostas do Syriza guiam-se pelo aumento do investimento público (recuperar salários e pensões para aumentar o consumo e a procura), pela criação de emprego através de incentivos às PME (pequenas e médias empresas), pelo investimento na ciência e na investigação (de forma a recuperar os jovens qualificados que se viram obrigados a emigrar) e reverter “todas as injustiças do memorando”. Para além disso, surgem no seu programa político algumas propostas interessantes, a saber, a) electricidade grátis para 300 famílias a viver abaixo do limiar da pobreza; b) subsídios de alimentação para famílias sem rendimentos com o apoio das autoridades locais, Igreja e organizações voluntárias; c) aumento do IRS (tornando-o mais progressivo); d) recolocar o salário mínimo nos 751 euros; e)Implementação de uma taxa sobre as grandes propriedades e casas de luxo. Devem ainda ser mencionados algumas medidas para reformar o sistema político, nomeadamente a descentralização dos municípios e a regionalização do Estado grego, o restabelecimento da televisão pública e o cancelamento de privatizações.

Quanto à europa, o programa do Syriza visa sobretudo uma restruturação da dívida de modo a que se torne sustentável. Ao jeito do “New Deal”, Tsipras, pretende realizar estas medidas utilizando o financiamento do Banco Europeu de Investimento e fazendo uso dos fundos do Plano Juncker. Um estratagema inteligente que pode dar frutos mais depressa do que se espera.

Os dados estão lançados e as políticas já começaram a ser postas em prática. Resta-nos esperar para ver que consequências se sucederão com o “reformismo radical” recém-chegado ao poder. Continuará a União Europeia com uma postura intransigente face ao pagamento da dívida e ao cumprimento do memorando ou abrir-se-á às negociações com o intuito de respeitar a vontade dos eleitores gregos tentando engendrar soluções menos ortodoxas? Dilemas, dilemas…

 Artigo de Diogo Spencer