Ferro, ¿Por qué no te callas?

Considero um dos factos mais reveladores da campanha, a citação de Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, a propósito da importância das próximas eleições, segundo a qual “o voto no domingo é um ato de resistência contra o vírus”. Considero um disparate. Porque não se cala, Sr. Ferro Rodrigues, não seja ridículo ou então, se quer fazer uma coisa útil, vista uma bata e voluntarie-se para ir trabalhar de Auxiliar num dos hospitais do SNS que estão neste momento à beira do colapso!

Não deve ter reflectido no que disse, pedindo às pessoas, com base num argumento falacioso que fossem votar, exercendo um direito que lhes assiste, mas violando as regras elementares de comportamento recomendado pela DGS, numa altura agravada da pandemia.

Diz um político que votar combate a estirpe. Pensará o mesmo, um ecologista convicto de que comparecer na mesa de voto é um ato de luta contra as alterações climáticas? E achará um nutricionista, que exercer esse direito fundamental é que vai resolver o problema da fome, nos lares aonde à hora do jantar ninguém terá vontade de comer?

Por estes dias, venho assistindo às ondas de choque da pandemia COVID-19 e, lamentavelmente, visto alguns políticos de carreira posicionarem-se como galos, mais preocupados em resistirem à toada e a susterem-se no poleiro, do que, num gesto de bom senso, fomentar a aproximação com aves de uma espécie mais inteligente: o mocho, que poderia com os seus sábios conselhos incitá-los a terem mais e melhores ideias.

Estas aves de rapina noturnas são caçadoras eficazes e a permanência delas é um indicador de ecossistemas equilibrados, o que não abona em favor das nossas aldeias e cidades, aonde vão escasseando ao ponto de se tornarem numa estirpe rara. Talvez porque neste tempo de caça ao voto temam ser apanhadas no fogo cruzado de algum discurso. Seja como for, outrora considerada banal, tornou-se raro no mundo animal, a presença de uma criatura que saiba falar dando sinais de uma inteligência notável.

Não é o caso da generalidade do pessoal que trabalha em medicina. Revejo-me nas recomendações de médicos, enfermeiros e auxiliares, dados à população e respeito um trabalho que é tanto mais sério quanto o facto de que não vi ainda nenhum perder tempo no apoio de campanha a qualquer candidato.

Não aconselho a que não votem, pelo contrário. Mas façam-no tendo em conta o vosso estado físico, sem esquecer a opinião dos especialistas acerca dos perigos que acrescem ao facto de ter uma certa idade.

Borrifo-me para a esquerda e para a direita, só olho em frente, e para trás só me viro se vier atrás de mim algum marido ciumento por a esposa gostar tanto das minhas crónicas, que decidiu partilhá-las no facebook das melhores amigas.

Não gosto dos políticos que, contrariando a opinião médica, encorajam as pessoas a sair de casa porque sim, devem votar, ignorando que no calendário desta estirpe pandémica, importada ou não do Reino Unido, não há fins-de-semana nem Festas e todos os dias são úteis para se disseminar entre nós.

Não sou apologista de correntes. Os grilhões sustinham a revolta dos escravos. Não partilho a opinião de políticos que não fosse a lei estar constantemente a subir a idade da reforma, há muitos anos não estariam no ativo. Valido a opinião sábia dos mais velhos, mas, ao Sr. Ferro devia valer a prorrogativa de estar calado para não ser, em resposta injuriado, na mesma proporção da ofensa que causaram as suas palavras.

Espero que vença o melhor candidato, o mais sensato, que saiba convencer os eleitores a ir às urnas, com base num programa eleitoral e não num slogan publicitário, que não ajudaria a vender nem sequer aparelhos auditivos no intervalo dum qualquer programa de televisão.