Fui crescendo órfão de Pai e Mãe…

Dando continuidade de acordo com o prometido na última crónica, hoje aqui fica mais um capítulo, do maravilhoso ” romance da minha vida”…Neste, teremos a viagem entre os cinco anos de idade e os doze. Como se já não bastasse aos cinco anos ter ficado incapacitado, até aos doze anos qual tragédia! É o que vamos ver neste capítulo! Um pai que arranja uma amante, um pai que abandona os filhos, um pai que morre! E agora…órfão de pai e mãe! Entre todas estas adversidades a história continua!

“…Na continuidade do romance vou falar dos meus pais. O meu pai chamado Joaquim e a minha mãe Ana Maria. Falando do meu pai depois de classificar a sua capacidade na sociedade, podemos dizer que foi uma estrela brilhante que escureceu em pouco tempo. Qual a razão? Andou no seminário, desistiu! Foi cumprir a tropa e os oficiais depressa notaram o seu talento. Pediram-lhe então para seguir a tropa com um posto de graduação…mas também desistiu. Vindo para junto da família dedicou-se á agricultura. Nessa altura, infelizmente havia muito analfabetismo então o meu pai mandou fazer um quadro escolar, chamou todos os que quisessem aprender e assim teriam acesso á quarta classe. Como é evidente teriam de ser aulas nocturnas, pois durante o dia todos andavam nos seus trabalhos. Uma grande maioria aderiu ao convite e foram por ele levados ao exame. Só que nessa altura o meu pai teve um problema! A professora primária que estava a exercer o cargo de ensino levou-o a tribunal! É bom assinalar que o que fazia era gratuito!

Chegou o dia de se apresentarem ao juiz. O juiz perguntou ao meu pai: sabe porque está aqui?-Sei, fui acusado por essa pessoa aqui presente. Mas, com certeza que se explicar o caso dar-me-á razão. Eu formei uma escola nocturna porque tinha capacidade para isso, talvez essa senhora nem tenha as habilitações que eu tenho. Para além disso ainda sei falar, espanhol, francês, Inglês e Italiano! O juiz depois de ouvir tudo isto, olhou para o meu pai e disse-lhe:-pode ir embora e faça á humanidade o que estiver ao seu alcance. E você minha senhora, continue a sua missão!
Já falei um pouco do meu príncipe e das façanhas do meu pai. Vou falar agora do caso da minha mãe. Infelizmente há menos que dizer pois morreu muito cedo, apenas com quarenta e dois anos e vítima de um problema num parto. Enquanto viva foi uma extraordinária dona de casa. Cuidava de seis filhos e ainda trabalhava no campo. Como já referi, ela faleceu num parto mas a criança viveu, ficando a contagem de sete irmãos. Mas quis o destino que este recém-nascido durasse apenas um ano. Para além desta fatalidade a minha mãe ainda teve outros que faleceram e dois abortos. Se tudo tivesse corrido bem éramos doze filhos!

Enquanto a minha mãe foi viva, o meu pai tomava conta de uma taberna, não tinha jeito para a coisa. Infelizmente também se embriagava e assim não podia dar conta do recado como se costumava dizer. Então após a morte da minha mãe, ficamos órfãos, tendo a mais velha dez anos de idade. Houve alguém que se ocupou e perguntou ao meu pai se queria que tomasse conta de alguns filhos. Lembro-me de saírem dois, um rapaz e uma rapariga. Passado pouco tempo surgiu o caos. O meu pai amantizou-se com uma mulher casada. O falatório começou logo. Vivendo assim alguns anos, tornou-se tão vergonhoso para ele que decidiu abandonar-nos e emigrar para Angola. Ficamos nós sujeitos a essa mulher. Depois de emigrar o meu pai escrevia-nos sempre e dizia que estava a correr bem a vida. Já tinha a intenção de mandar ir o filho mais velho. Acontece no entanto que deixamos de ter correspondência dele. Passado um certo tempo, bate á porta uma pessoa, era o nosso tio.- Olhai trago-vos aqui uma noticia muito desagradável. Faleceu o pai dos meus sobrinhos. Claro! Ele teria falado dessa maneira porque estava lá a tal amante. A partir daí passamos a ser órfãos de pai e mãe. Tínhamos um tio do lado do meu pai, passou ele a ser nosso tutor. A partir daí deu o conhecimento a essa amante para sair de casa. Esse meu tio tomou conta de mim. Tínhamos outra tia, por sinal madrinha de todos nós e tomou conta de outro irmão. Outra pessoa tomou conta de uma rapariga. É de referir que somos quatro rapazes e duas raparigas. A mais velha ficou assim com essa pessoa que tomou conta dela e a levou para Santo Tirso, para trabalhar no hospital…!

…continua…

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Crónica de Aida Fernandes
A última Etapa