Hora da viragem – Nuno Araújo

António José Seguro afirmou que o PS está pronto para governar. Esta é, sem dúvida, uma notícia de grande impacto. Se por um lado, as palavras de Seguro teimavam em ser bastante moderadas, por outro lado a liderança ponderada do socialista permite passar um período difícil para o PS, em que o partido fez o necessário “mea culpa”, e se assume como inevitável alternativa real à maioria PSD-CDS.

António José Seguro afirmou, no passado Sábado, que o PS está pronto para governar. Seguro confessou que o PS tem antecipado prazos, por forma a antecipar igualmente os calendários eleitorais. O líder socialista diz ainda que “não há falta de dinheiro, mas de ambição e competência do primeiro-ministro”, garantindo como primeira prioridade para um Governo do PS o crescimento económico e o emprego, combatendo as desigualdades sociais. Diz ainda que “o PSD está mais preocupado em fazer oposição ao PS do que em governar”. “Não me importo em prometer pouco”, porque “ vamos conseguir fazer tudo com que nos comprometermos”.

Indo um pouco atrás no tempo, podemos reparar que o PS viveu à sombra de José Sócrates. Em demasia, por ventura. Um partido profissional que foi personalizado, cuja estrutura foi sendo moldada à medida do seu ex-secretário-geral, um homem determinado mas com inúmeras inimizades e outras tantas acusações de actos ilícitos, ou até existindo o escamoteamento das obras de Sócrates (simplex, plano tecnológico, etc).

Os ataques dirigidos a Sócrates viam a defesa possível ser efectuada pelo próprio ex-primeiro-ministro. A imagem de Sócrates foi ficando desgastada ao longo dos seus seis anos de mandato, porque era ele mesmo a responder às acusações em conferências de imprensa convocadas “ad-hoc”.

Dois anos depois de Passos Coelho ter recusado um PEC 4, e de com isso ter chamado o FMI a Portugal, o PS é agora oposição a este governo PSD-CDS, que fez um pacto com o FMI para privatizar o estado social português. Diga-se, é importante frisá-lo, o conteúdo do memorando que o PS assinou com a Troika era bem diferente do actual, e não contemplava a austeridade que tem destruido o nosso país.

Agora, chegado o momento em que o sacrifício dos portugueses vai dar créditos, pois Portugal vai conseguir financiar-se a taxas “decentes” nos mercados internacionais, o país tem de mudar a liderança.

O país tem suportado a austeridade “sem-limites” imposta por Passos Coelho; o país tem feito o ajustamento devido no sector privado, naquele que tem as pessoas que trabalham e outras que vão trabalhando; o país está farto de um governo que não faz ajustamentos orçamentais quanto às suas despesas correntes, pois a despesa corrente dos ministérios tem aumentado, de acordo com dados do Tribunal de Contas; o país quer eleições, e quanto antes.

100 anos de Álvaro Cunhal

Álvaro Cunhal foi o líder histórico do PCP e teria feito 100 anos agora. Firme opositor de Salazar e Marcelo Caetano, mais tarde, o histórico comunista foi preso por diversas ocasiões, mas sempre mostrando inabalável convicção na oposição à ditadura fascista.

Deve ser feita uma justa homenagem a esse grande vulto da história recente da política portuguesa. Não esquecendo o 25 de Novembro de 1975, também devemos lembrar o discurso em conjunto no 1º Maio de 1974, em que Mário Soares e Álvaro Cunhal mostraram que estavam unidos para evitar um ressurgimento do fascismo.

Se há uma promessa que deveríamos fazer à memória de Álvaro Cunhal, era mesmo essa: “Fascismo nunca mais!”

Galp

A Galp garantiu em Sines a auto-suficiência do País em gasóleo. Após um mega-investimento de 1.400 milhões na refinaria do porto do litoral alentejano, a entrada em funcionamento dessa refinaria permite aumentar a produção de gasóleo e reforçar exportação de produtos refinados para um valor próximo de 4 mil milhões de euros.

Esta notícia representa algo histórico: Portugal, país altamente dependente de combustíveis fósseis para desenvolver a sua economia, consegue abastecer toda o seu tecido económico, recorrendo apenas ao combustível extraído em solo português. Doravante, a posição de Portugal será bastante díspar da dos seus parceiros europeus, já que se anteriormente o facto de o nosso país estar situado na ponta mais ocidental do “velho continente” significava preços ainda mais altos nos combustíveis cá do que no resto da Europa, agora isso passa ao passado.

Mais: Portugal reduz, assim, a dependência energética face ao exterior, melhorando assim a sua balança comercial, e acima de tudo, consegue não ficar dependente das flutuações de mercado, influenciadas por epísódios como o dos raptos na Argélia ou episódios de tensão em países do médio-oriente que produzam petróleo, situações essas que inflacionam o preço do petróleo a nível mundial.

Eslovénia

O primeiro-ministro Janez Janša está envolvido num escândalo de corrupção no seu país, Eslovénia. Janez Janša é acusado pela justiça do seu país de ter enriquecido ilícitamente, uma noção de crime ainda não legislada em Portugal (porquê, pergunto eu?).

As manifestações contra o primeiro-ministro sucedem-se, contando com milhares de pessoas em cada uma delas. A oposição pede a demissão do primeiro-ministro, mas este tem-se mostrado teimosamente oposto a essa ideia. O clima democrático na Eslovénia, país da zona Euro, é cada vez mais “bafio”, até porque o tempo passa, e, como a oposição tem vindo a referir persistentemente, “o governo está clinicamente morto”.

UE

A introdução de nova nota de 5 euros marca uma nova fase na vida do Euro: uma nova série de notas (de nome “Europa”), que principia pela nota de 5 euros, é bom augúrio para futuro do Euro. E assinala uma forte resposta para aqueles que apostavam nas bolsas de valores pelo mundo inteiro, em como o Euro ia acabar.

Medidas como esta visam, igualmente, evitar a prossecução de falsificação de notas de euro, tendo em conta o tempo que especialistas em falsificação de notas demoram a conhecer as técnicas de produção.

Itália

Joseph Daul, presidente do Partido Popular Europeu (PPE) do Parlamento Europeu, esclareceu que o candidato do partido nas eleições antecipadas italianas de Fevereiro é o primeiro-ministro Mario Monti e não Silvio Berlusconi (líder do PDL), que representou o PPE durante mais de 20 anos. Berlusconi até se mostrou antieuropeísta, para se distanciar de Monti durante a campanha, só que muitos dos parceiros europeus do seu partido têm defendido que o PDL deve ser expulso do PPE.


Mali

O avanço militar das milícias jihadistas de Ansar-al-din-led tem sido travado, e de que maneira, pelas forças de combate francesas, que contam 2 mil unidades mas duplicarão ao longo da próxima semana. África, em peso, juntar-se-à no apoio à intervenção militar francesa, o que legitimará ainda mais a situação actual no terreno.

O objectivo miliciano, de chegar até às fronteiras mais a sul do país, tem-se tornado cada vez mais distante de alcançar, e as zonas patrulhadas pelos franceses são já consideradas seguras.

Quase um milhão de pessoas terá, perto do final deste mês, contado refugiar-se do conflito que assola este país africano.

As várias acções de combate das tropas francesas, até agora apenas suportadas moralmente pelos parceiros europeus, terão apoio logístico e no terreno. A Alemanha mostrou a sua boa vontade para com a acção armada francesa, e disponibiliza dois caças da sua frota, enquanto que os restantes aviões de combate se encontram no Afeganistão.

A França “comprou” um conflito longo e árduo, com muitas dificuldades no terreno, mas deve ocupar-se de mostrar posição firme na luta contra os rebeldes radicais islamitas. A UE goza de simpatia por parte da opinião pública maliana, e esta é a altura certa de intervir naquilo que representa para a Al-Qaeda, e para outras milícias terroristas, mais uma tentativa de reequilibrar e redistribuir unidades operacionais e força paramilitar no terreno do norte de África.

No Mali, as tropas francesas terão apoio logístico por parte de colegas belgas, estando no entanto descartada a possibilidade, pelo primeiro-ministro belga Di Rupio, de actuação em terreno de combate. O apoio destina-se meramente a fornecer artigos vários para as tropas francesas a actuar nos limites de zonas de combate.

A instabilidade regional parece agora ter-se deslocado para a Argélia.

Argélia: In Amenas

A par da situação calamitosa no Mali, deve ser dita a verdade: o resgate dos reféns em In Amenas, complexo de gás argelino, correu muito mal. No assalto ao interior do recinto, efectuado por forças de operações especiais argelinas, morreram 55 pessoas, 23 dos quais reféns. No entanto, os sequestradores foram eliminados. O governo britânico desconhecia o paradeiro de dez homens, e cerca de mais trinta pessoas estavam desaparecidas.

No entanto, 685 argelinos foram libertados com vida do interior das instalações do complexo, e a mesma sorte tiveram mais 107 estrangeiros trabalhadores no local.

Mokhtar Belmokhtar foi o líder e mentor do ataque à gigantesca base de gás de In Amenas, e foi líder da Al-Qaeda para o Magrebe. No entanto, e segundo informação não confirmada, Belmokhtar empreendeu esse ataque para mostrar uma posição de força e de liderança perante outros actuais líderes militares da Al-Qaeda, para assim “trabalhar por conta própria”. Esse “trabalho por conta própria dá pelo nome de “Batalhão de Sangue”.

Belmokhtar, ou “Sr. Marlboro”, foi um dos maiores contrabandistas de tabaco de sempre; combateu no Afeganistão, onde perdeu um olho, em 1991 (e daí nasce a alcunha “Belaouar”, ou homem só com um olho”.

Alguns dos terroristas cooptados por Belmokhtar poderão ser oriundos da Líbia ou de outros países do Magrebe, segundo informações não confirmadas.

França

Renault vai despedir 7500 pessoas até 2016. Isto significa a queda do sector automóvel em França, sobretudo após o plano social implementado pela Peugeot.

A França terá um longo caminho pela frente, isto se Hollande quiser reindustrializar o seu país. Nesse aspecto, a deslocalização de diversas empresas do sector industrial continuará a ser uma dura realidade em frança, pois a grande força dos sindicatos gauleses associada a um custo elevado do trabalho, significa que a China vai poder continuar a albergar indústria.

A luta de Hollande pelo emprego em França passa pelo sector automóvel, sem dúvida. Mas para essa luta ser ganha, Hollande terá de dar primazia ao sector do automóvel, isto é, oferecer boas condições financeiras, fiscais e económicas às marcas fabricantes. Rivalizar com a China significa ceder estrategicamente, para depois colher os benefícios dessas cedências estratégicas. Entre as cedências terão de estar, obviamente, menos benefícios para os trabalhadores, pois é esse o cerne da questão: os administradores das empresas construtoras automóveis procuram pagar menos pelo preço do trabalho, que é efectivamente mais baixo na China, onde o salário é practicamente o único direito garantido pelas entidades patronais.

Às vezes, para se ser de esquerda e se governar também se tem de ser pragmático; e é isso mesmo que Hollande tem de ser: se a China “rouba” as empresas de França, então Hollande tem de oferecer boas contrapropostas.

Alemanha

A Federação alemã e demais instituições estaduais bávaras conseguiram encerrar as contas de 2012 com saldo extremamente positivo, de tal forma que até criaram excedente financeiro. Enquanto a UE está em dificuldades, a Alemanha sorri e enriquece. Mas o PIB alemão cresceu menos 0,5% no último trimestre do ano passado face a anterior período, um sinal de que as coisas já vão menos bem em terras de Merkel.

Em ano de eleições para a chancelaria alemã, Merkel tem de “inverter o ciclo da estagnação-recessão”, como tem dito o economista e prémio Nobel, Paul Krugman.

Emprego

Para quando uma frente comum intergovernamental de apoio à criação de emprego? O tempo urge!

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana