Onde é que isto tudo vai parar, Zé?

Até as palavras falham. É desta forma que podemos descrever a época de 2015/2016 vivenciada por Mourinho. O outrora melhor treinador do mundo, está a atravessar o pior momento da carreira. Não consegue ganhar jogos; produzir bom futebol ou mesmo ter um discurso coerente e elucidativo. O Chelsea é uma sombra do que foi e os acontecimentos parecem precipitar o fim do casamento que em tempos foi “para a vida”. Que causas são estas para este divórcio prematuro? Onde anda o “Special One”?

Mourinho está triste. Assim como é o seu futebol. Quem viu o Leiria, o Porto, o Chelsea, o Inter e, a espaços, o Real Madrid, está longe de perceber o que se passou. Um treinador que agarrava equipas pelos colarinhos e domava até os maiores “badboys” do mundo; um treinador que deu tanto ao jogo em termos tácticos; um treinador que foi o rei dos Mind Games; um treinador que derrotou mitos, bateu recordes, pôs estádios a cantar o seu nome, celebrizou frases e imortalizou a sua imagem. Esse treinador desapareceu. O Mourinho de hoje é um homem perdido num deserto de ideias. Deserto esse no qual se tornou o seu futebol, a sua postura e, sobretudo, o seu discurso.

Um mestre que se perdeu para uma cultura tão resultadista que acabou por lhe toldar o pensamento e aquele dom de antever as adversidades, algo que tão bem fazia. O Chelsea é uma equipa sem criatividade, assente num futebol primário, sem fio de jogo e com demasiados erros a todos os níveis. Os jogadores não produzem. José Mourinho não consegue tirar o máximo de alguns dos melhores do mundo. É preocupante tudo o que se passa em redor do clube londrino e do treinador português. Uma junção que já deu tantas alegrias a quem vive e gosta de futebol e que agora se nota claramente que tem um fim à vista. O clube do qual Abramovich é dono, tem perdido mais de metade dos jogos que realizou esta época. Aliando a tudo isso o mau futebol e a perda de objectivos a curto prazo. Os adeptos dividem-se: uns lembram-se de tudo o que foi passado e fazem-se valer disso para continuar a acreditar; outros sabem que o fim chegou e querem Mourinho fora do clube, por forma poderem ainda aspirar a algo mais que o 15º lugar. No entanto, os adeptos são mesmo os únicos que se dividem. Todas as restantes pessoas têm bem patente o que precisa de acontecer: um despedimento milionário que poderá salvar a carreira do treinador português e a época do Chelsea.

As desculpas dadas a cada derrota, a cada falhanço, a cada erro ou a cada crítica, são do mais desesperado que existe. Mourinho não sabe lidar com os constantes desaires que vai tendo. Não sabe. Ou culpa a médica; ou culpa o árbitro; ou culpa o terreno; ou culpa o tempo; ou culpa os seus jogadores; ou culpa a bola. Tudo serve para tirar água do seu capote e seguir em frente como se não fosse nada com o próprio. A sua tão típica arrogância está a diluir-se e a transformar-se em estupidez. O vazio dos seus discursos tem vindo a ser cada vez maior e o orgulho, que o força a não admitir a culpa, só tem destruído o seu trabalho. O certo é que já não é o mesmo. O treinador que alcançou o Olimpo do futebol e encarnou Zeus por diversos anos; é agora um vulgar timoneiro que não soube dar a volta ao contexto no qual se encontra e a monotonia na qual vive. A falta de ideias é cada vez mais gritante e o futebol apresentado roça o deprimente. José caiu nas malhas da vulgaridade. Deixou-se apanhar nas teias dos resultados, relegando para segundo plano aquilo que fez dele o  “Special One” e um dos melhores de sempre: o futebol. Esse, neste momento, é o que menos se vê e o que mais devia preocupar Mourinho, em vez de perder tempo a culpar Eva Carneiro por ter entrado em campo quando não devia. Isto são tudo sinais de saturação de alguém que não soube lidar com a sua própria grandeza. É um caso de estudo, as componentes futebolísticas, psicológicas e humanas não se podem perder em 2 anos. Um génio não desaprende.

E assim vai Mourinho. De génio incompreendido, a pragmático especial, até chegar a banal. Um caminho tortuoso que magoa todos os que sempre viram no “Zé de Setúbal” o paradigma do que devia ser um treinador de futebol. Todos vimos no senhor do sobretudo preto, um exemplo a seguir. Como com pouco se faz muito; como com 300 homens se pode ganhar uma guerra a milhares e, acima de tudo o resto, como aliar a qualidade à quantidade – neste caso, de títulos. Não é correcto dizermos que é o fim de uma era, mas é certo dizermos que é o fim de um ciclo. 11 anos depois de ter erguido a Champions League com o FC Porto, o mestre dos Mind Games,  caiu. Caiu com estrondo, sem classe e sairá do Chelsea – e quiçá do futebol -, pela porta pequena. Será que ainda vai a tempo de reverter a tendência negativa e dar uma nova vida à sua cadeira? Talvez, mas para isso terá de ser humilde e abandonar o posto actual. Se não, onde é que tudo isto vai parar, Zé?