Já não te estou a ver bem – Teresa Isabel Silva

Agora que a televisão digital terrestre já chegou e com a crise a ficar cada vez mais alojada nos bolsos dos portugueses, nem sempre foi possível comprar televisores novos ou descodificadores. Por isso, ninguém se surpreenda quando alguém disser que já não está a ver bem o apresentador do noticiário….
Nós os portugueses, temos uma particularidade que talvez não exista em mais nenhuma parte do mundo. Afinal de contas, quando a conversa não nos agrada, temos uma enorme facilidade em deixarmos de ver bem a pessoas com quem estamos a conversar.
Esta cegueira nas conversas afecta facilmente o temperamento de qualquer um. Não é uma doença sexualmente transmitida. E também não se passa através da saliva. Esta doença ainda não está catalogada nos compêndios médicos nem nos melhores manuais de medicina mundial, mas os estudiosos julgam que se transmite pelo chamado passa palavra. Seja como for, ficam já todos avisados, meus caros leitores, que se alguém vos disser “Já não te estou a ver bem”, acreditem que essa pessoa não tem problemas oftalmológicos.
Ser inconveniente é um dos primeiros sintomas desta doença inexplicável. O indivíduo A começa a tagarelar e a desconversar, tal como todos nós, ele começa a sentir um formigueiro acompanhado de ondas calor que lhe sobem a espinha, nessa altura ele sabe que já está a reprimir a frase “Cala-te!!! Já não te aguento ouvir!!!”. Meus caros leitores aqui está aqui a prova de que o “já não te estou a ver bem” é um aviso que antecede a expressão: “Ou te calas ou levas uma sova!”
Qualquer casal consciente de que vêem um bebé a caminho começa logo a praticar esta expressão, pois nada melhor que uma criança (toda a gente sabe como os rebentos conseguem ser irritantes) para se por em prática o uso do “Já não te estou a ver bem”. De qualquer maneira, acredito que o seguinte cenário já aconteceu a muita boa gente: Estamos nós, na fila da caixa de um supermercado, quando na nossa retaguarda (ou á nossa frente) está um casal com aquilo que na gíria se chama “puto birrento”. Imaginem que a criancinha faz uma das suas birras irritantes, daquelas em que parece que o seu pequeno mundo vai acabar se os pais não cederem á chantagem dele. Depois já toda a gente sabe que no nosso íntimo, todos pensamos “se fosse meu filho ele ia chorar com motivos”, e nesta altura apetece-nos virar para a criancinha que já está a ser completamente inconveniente e dizer-lhe “Já não te estou a ver bem”. Neste caso acho que era preferível não se ouvir bem, mas tudo bem, os leitores compreenderam o ponto de vista.
Resumindo e concluindo, se a expressão “Já não te estou a ver bem” se aplica às crianças irritantes na fila do supermercado, fazendo-nos ter vontade de mudar para outra fila qualquer, mesmo que seja pior que aquela onde estamos, podemos dizer que os nossos políticos são bebés grandes, pois sempre que existem debates que passam na televisão existe sempre uma vontade incontrolável de os mandar calar, deixamos de os ver bem e então optamos por mudar de canal, mesmo que neste novo numero da grelha televisiva o conteúdo ainda seja pior.

Crónica de Teresa Isabel Silva
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