Made In Outro Sítio Qualquer – Carla Vieira

Eu não costumo ter discussões com ninguém acerca de Portugal porque muito sinceramente sou daquelas pessoas que já só querem andar com a vida para a frente. Praticamente não presto atenção às notícias a não ser que seja algo relevante para os meus interesses, embora a televisão esteja ligada a essas horas para se ouvir o telejornal. Sim, eu sei que Portugal está a passar por um período de crise e é complicado, até entendo melhor por ser parte da chamada camada de jovens licenciados que não arranjam emprego.

No entanto, e vou repetir-me, não tenho discussões acerca do estado corrente de Portugal. Não vejo benefício nenhum em ter tais debates porque toda a gente com bom senso já entendeu que o nosso estado económico de caca se deve ao resto do mundo estar em crise e portanto, não somos os únicos a sofrer por causa disto. Claro que é um bocado impossível toda a gente pensar desta forma porque há ainda quem insista que os políticos é que estragaram tudo. Como esse tema já está fora da minha jurisdição, só posso falar daquilo que sei, que é o facto desta crise nos estar a fomentar um ódio contra a nossa própria nação.

Incomoda-me imenso quando alguém se vira para mim e constrói frases do género “Isto só em Portugal!” enquanto abanam a cabeça, ou resmungam que Portugal é um país assim e assado. Bem dizia uma professora minha que nós temos uma relação amor-ódio com a nossa pátria, achando que devemos pôr-nos aos pés do mundo e ao mesmo tempo valorizando capacidades que achamos as outras culturas não exibem. Nunca sabemos muito bem quando devemos elogiar o nosso país e quando aceitar as nossas falhas, o que torna os nossos discursos numa amálgama de ódio desmesurado e orgulho ferido sem sabermos bem porquê.

Não percebo por que é que é assim tão complicado adorarmos o nosso país. Agora com o Euro 2012, todas as janelas têm uma bandeira pendurada para mostrar o nosso apoio à Selecção (se não fizeram ainda, façam porque não há nada mais bonito do que ver só verde e vermelho em cada casa), mas não acho que estejamos plenamente confiantes na capacidade dos nossos jogadores. Os pais puxam e pressionam para os filhos irem para a faculdade mas depois não têm emprego, os políticos opinam que devíamos emigrar…

No entanto, o famoso Chef Jamie Oliver já cá veio de propósito para provar das nossas iguarias gastronómicas, o nosso azeite é dos melhores do mundo, uma mulher portuguesa ganhou um concurso americano por ter cozinhado um prato português, os turistas adoram a nossa hospitalidade e os artistas derretem-se com o nosso entusiasmo nos concertos.

Não me levem a mal mas cá para mim o problema está na cambada de antipatriotas que se andam para aí a queixar mas não têm um pingo de coragem no corpo para emigrarem porque aqui é que estão confortáveis. Ora se esta é a vossa casa, de que vale tanto queixume? Vai mudar alguma coisa? Vai fazer com que a crise acabe? Uma coisa é queixarem-se de certas situações, outra completamente diferente é culparem Portugal como um todo por tudo o que se passa de mal nas vossas vidas.

Eu gosto do meu país. Adoro-o, aliás. Tem as melhores pessoas do mundo e se procurarmos bem, tem dos locais mais fantásticos de sempre. Tem problemas? Pois tem. Imensos. No entanto basta ver reportagens de Portugueses fora de Portugal e chamam a este nosso cantinho sem excepção de “casa” e falam sempre em voltar um dia ou todos os anos. Claro que é complicado viver aqui, mas entre a nossa casa à beira-mar e qualquer outro país… Prefiro a minha casa de origem.

Made In Portugal.

Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente