As melhores sugestões para o dia dos namorados

Na semana do dia marcado no calendário para os casais em todo o mundo celebrarem o ato de namorar, trago aos leitores do maisopinião que me acompanham uma crónica diferente das que habitualmente leem quando edito o que escrevo à segunda-feira.

Num texto que eu pretendi que não fosse extenso, ponho-me na pele do namorado ou marido e sem enunciar, por achar desnecessário, os motivos nos quais encontro razão para levar uma vida conjugal no recesso do lar, dou a conhecer algumas sugestões de compra para esse dia, dirigidas sobretudo aos indecisos com as escolhas de última hora ou aos mais românticos que, não satisfeitos por porem uma frase bonita no cartão que acompanha as flores que vão dar á sua amada, ainda pensam em oferecer-lhe um presente de tal forma inesquecível que, nem que seja só pelo valor que ele possa ter, elas jamais os esquecerão.

Num dia que assinala um acontecimento tão especial, não sejamos tão simplistas e pensemos que todas as coisas que lhes possamos dar, deixam as mulheres tão contentes como se tivessem sido escolhidas por elas na loja e no final só nos tivessem dado a conta para pagar, visto sabermos, por experiência própria, que se nos agradam mais os presentes que são da nossa preferência, é natural que também as mulheres se sintam mais intensamente felizes se receberem algo de que andam há muito tempo a queixar-se que sentem a falta, ainda que entendamos o contrário e não vejamos no uso por parte a menor utilidade. Mas, sobretudo, saibamos escolher e jamais caiamos na asneira de lhes oferecer um determinado artigo baseado no proveito dele que esperamos obter em causa própria.

É o caso de todo e qualquer pequeno eletrodoméstico como a pequena e prática torradeira, sem a qual alguns de nós não passam de manhã, para não ser em jejum que tomam o café. Um pequeno aparelho quase sempre de cor branca que mais do que para fazer torradas, em muitos casos, já serviu para torrar a paciência às esposas mais exigentes que, nos dias de aniversário ou em celebrações como esta, esperam uma prenda do parceiro que revele mais bom gosto e originalidade. Por que não, em vez disso, sair com ela de carro num fim-de-semana romântico? Sempre se pode escolher uma pousada e depois de uma belíssima noite de amor tomarem juntos um pequeno-almoço tão farto de iguarias que a última coisa em que ela possa pensar comer sejam fatias de pão torrado, nem que venham barradas com manteiga produzida com leite de vacas dos Alpes ou geleia do fruto favorito de ambos apanhado à mão.

E agora outra advertência. Para vossa proteção, outro mau exemplo do que podem dar é um aspirador, a menos que seja um desses com muitas horas de autonomia que fazem todo o trabalho sozinho. Os outros têm um fio de ligar tão comprido que nem que a casa seja muito grande e só tenha uma parede com tomada elétrica, a partir de onde ela estiver a vossa cara-metade pode obrigar-vos a aspirá-la toda de uma assentada. Sugiro que sejam simpáticos e apelando ao vosso bom senso lhe deem a possibilidade de sair à noite com as amigas de infância, pagando-lhe o jantar e uma ida à discoteca, enquanto no recesso do lar se distraem a arrumar a cozinha e a deitar as crianças, antes de finalmente se sentarem no sofá para assistir a um novo episódio da série que só é imperdível enquanto ela não se lembrar de arranjar outra para ver.

Já se pensam que no lugar deixado vago em cima da cómoda do quarto, pela moldura com a fotografia da vossa mãe que ela guardou, acham que ficaria bem a bonequinha de porcelana que viram por cinco euros à venda na loja do chinês, esqueçam! Não queiram enfurecê-la ainda mais e que, por consequência, ela ponha juntamente com essa, no fundo do baú onde guarda as camisolas de lã que deixaram de servir, também as fotografias em que vocês aparecem, ainda a sorrir porque nesse dia estavam longe de desconfiar do que estava para vos acontecer. Para lhe darem um bibelot, nem que seja baratinho, nada como viajar com ela e trazê-lo do país de origem. Podem ir até Espanha, de onde não só vêm bons caramelos, mas também bons ventos e bons casamentos, em troca de futebolistas e treinadores de bancada que são o que temos em maior número para exportar, logo a seguir às barricas de vinho do Porto que embarcam em Gaia e às toneladas de bronze que obteríamos do metal das Comendas que os presidentes distribuem na duração dos seus mandatos.

Podia dizer o povo que não deixaria de ser verdade: “ Tão longe de saber o que ela pensa, como quem pensa ao vê-la sorrir que ela ficou satisfeita, está o marido que pensa que a mulher gosta de receber prendinhas para a casa ”. Mas cuidado, mesmo que elas sejam personalizadas, vale a pena refletir antes do ato de comprar, o qual requer a maior atenção possível.

É caso dos perfumes. Quem numa secção de perfumaria ou numa loja, inebriado pelos aromas que saem dos frascos sem tampa, nunca se sentiu tentado a comprar um ou dois frascos diferentes e dar-lhe neles um banho como aquele de onde ela sempre parecia acabada de sair quando chegava à minha beira, só porque cheirava tão bem? A eu ver, devem os cavalheiros resistir à tentação de lhe fazer uma surpresa e, em vez de comprá-los na sua ausência, ir com elas à loja deixando-a aconselhar-se com uma das vendedoras, da presença de quem o mais certo é não sairmos tão inteligentes como o Einstein, mas ainda mais inspirados do que ele estava quando no início do século passado, num rasgo de génio, escreveu a Teoria da Relatividade.

Em alternativa, podem presenteá-la com um pendente para pendurar num fio, um relógio de marca ou um colar sem pendente por causa do preço, sem contar com uma ida a um SPA, na qual podem acompanhá-la para recuperar do desgaste causado pelo esforço de terem pensado em como lhe agradar.

Por mim, que sou um sujeito simples e sem dinheiro para investir numa relação em que participo unicamente com uma grande quota-parte de amor, decidi que vou continuar a escrever-lhe versos, num cartão bonito como os de Boas Festas, e oferecer-lhos enquanto não ouvi-la lamentar-se no sentido de que está na altura de mudar e de pensar noutra coisa.

Vou partilhar convosco, três conjuntos de quadras, esperando com elas inspirá-los a declamar, em verso ou em prosa, o amor que sentem pela vossa cara-metade.

Passado, presente,

Pretérito imperfeito,

Futuro diferente,

Mas mais que perfeito.

 

O amor é um botão

De rosa por florir,

Um cravo na mão

Que temos de abrir.

 

O amor está num gesto,

Naquilo que fazemos,

Em tudo e no resto

Que, de mais belo vemos.

 

Não é por acaso que te chamo

De minha querida, meu amor,

Do meu chantilly és o morango,

Do meu jardim a única flor.

 

Não é por acaso que gosto

Dos meros olhares que trocamos,

Da minha boca és o gosto,

O azul dos meus olhos castanhos.

 

Não é à toa que me dou

A ti, o melhor que sei e posso,

Contigo eu sei por onde vou

E que aqui não ando por acaso.

 

Quero ir contigo à praia,

Ao teu lado eu queria,

A antes que alguém de lá saia,

Vermos juntos o nascer do dia.

 

Ver o céu pleno de estrelas,

Quando à Lua o sol dá lugar,

Vai-se ele deitar cedo sem vê-las,

Para só pela manhã voltar.

 

Quero contigo tornar à praia

Porque há sempre o ir e voltar,

E ouvir-te dizer, embora eu saiba,

Que me amas e sempre hás-de amar.