Mónica

Mónica ou lá o que é … pensei, quando ao cabo de um mês de ausência a vi, com dificuldade evidenciada em associar o nome de uma pessoa, à figura do anjo de carne e osso que estava à minha frente.

Conheci-a há um ano, num arraial da véspera do feriado de Santo António em Lisboa, e logo ali devo ter comentado com um parceiro ou algum amigo ao meu lado que era linda, porque agora ao verem-nos juntos, não há quem não note o meu olhar resplandecente, como se estivesse na presença da estrela mais brilhante do universo.

Achei-a prontamente bonita e, pelas minhas contas, Mónica tinha trinta anos; o dobro da idade com que ao ser pela primeira vez beijada, nenhuma jovem hoje em dia carrega a culpa de ter ido longe demais.

Era alta, comparativamente à estatura média em Portugal e era à altura dela que eu gostaria de estar para escrever a, louvar-lhe os traços esbeltos, o primeiro discurso da história com que alguém haveria de agradar a gregos e troianos. Penso nela, às vezes, como na primeira pessoa acerca de quem compreenderam que para elogiar uma mulher era preciso compor um poema e ao sorrir recordo que cada gargalhada emanava a nota de uma canção.

Tive naquele instante, a sensação de tê-la visto numa época anterior àquela em que ao máximo a que um homem podia aspirar era voar num foguetão da Terra em direção à Lua. Vestia uma túnica tom índigo com rachas laterias, como a vela de uma embarcação, rasgada pelo vento que faz ao passar e posso dizer que fiquei apaixonado à primeira vista.

Eu estava de serviço ao bar na festa, mais concretamente, aviava sardinhas em pratos de plástico, a pessoas que se amontoavam à minha frente como se eu fosse alguém que estavam desejosas de ver há muito tempo e de quem tinham tantas saudades que só lhes apetecia tocarem-me. Ao longe, vi um sujeito esbracejar em protesto contra eu ter ficado embasbacado a olhar para ela. Porém, eu não estava excessivamente preocupado, porque, em função dos comentários favoráveis que tinha escutado, tinha a certeza de que ele ficaria tão satisfeito com as sardinhas, que daria por bem empregue até o tempo em que estivera parado na fila.

Entreguei um prato a Mónica, mediante a entrega de uma senha que nunca soube onde pus, e não hesitaria em batizá-lo com o seu nome, se aquelas deliciosas sardinhas acompanhadas de uma cerveja fresquinha, a fizessem sentir-se como eu estava naquele momento, leve de espírito como se caminhasse de pantufas sobre nuvens.

Dando a vez a outra pessoa, Mónica afastou-se e foi sentar-se longe, a coberto da coluna de fumo que nas minhas costas emergia de um assador, em direção ao céu, mas não sem antes impregnar a roupa dos presentes com o cheiro àquilo que eles tanto gostavam de comer.