Não Me Toques Que Me Desafinas! – Carla Vieira

Nunca pensei em dizer esta frase, mas nestes últimos dias anda a passar como um filme silencioso pela minha mente sem parar: fui roubada. Não fui assaltada, atenção; folgo em dizer que tanto eu como a minha companhia estamos bem de saúde. As minhas possessões, no entanto, não estão.

Depois do sucedido, a primeira coisa que fiz foi ir à esquadra da polícia mais próxima e apresentar queixa, e acho que saí dali mais frustrada do que entrei. Além de ter de aguentar com piadas condescendentes acerca de “estar a pedi-las” quando na verdade ninguém passeia com grandes cartazes a dizem “Roubem-me! Roubem-me!” nas costas, basicamente a coisa mais interessante que me disse o agente foi para não ter esperança de encontrar nada.

Pois obrigada, senhor agente. Isso já eu tinha percebido quando se riu da minha situação. É assim, eu entendo. Os polícias têm o seu humor e as suas piadas e deve ser engraçadíssimo rirem-se do cidadão comum que não sabe como reagir quando é roubado.

Haha, oh Ambrósio, hoje falei com uma croma que foi roubada, e imagina-me isto, a gaja não fez os procedimentos correctos, que burra!

Senhores polícias que possam alguma vez ler esta crónica, fiquem a saber que é mau o suficiente a pessoa roubada não conseguir atirar com pedras aos testículos dos gatunos, por favor não tornem as coisas bastante piores ao humilhar as criaturas que acabaram de ficar sem as suas coisas, pode ser?

Avançando a questão, aprendi que em caso de furto, a melhor decisão a fazer (e à qual eu continuo a torcer o nariz) é ir a um estabelecimento próximo e pedir um veículo para patrulhar a zona. Por que é que eu torço o nariz? Se alguém já conduziu pelas ruas do Porto, vocês percebem. Acho que demorei menos tempo a ir para a esquadra do que o carro demoraria a chegar ao local. De qualquer das maneiras, deixei lá os meus dados e uma descrição de tudo o que me tinha sido tirado, mas já sem esperança de alguma vez reaver o conteúdo da minha mala.

Para minha grande surpresa, hoje recebi um telefonema de uma alma bondosa que descobriu não-sei-onde tanto a minha carteira como a do meu namorado e conseguiu arranjar maneira de me contactar para eu poder ir buscar, nada mais nada menos do que a casa dela.

Não tenho muita fé nos agentes da polícia, e agora claramente não tenho fé nenhuma nas aberrações que andam por aí a vender o que não é deles, mas fiquei muito bem surpreendida ao saber que alguém sem obrigação nenhuma fez o mais correcto.

Embora algo de desagradável me tenha acontecido, hoje é um dia em que posso dizer que tenho um bocadinho mais de fé nos seres humanos, ou pelo menos, nas pessoas que vêem uma mala de rapariga no chão e têm a coragem de pegar nela com o intuito de a devolver.

Isso, e quem ficou com o MP3 deve estar a adorar as minhas playlists de música.



Crónica de Carla Vieira
Foco de Lente